outubro 24, 2008

Violet


em meu olhar, pousa um rouxinol mudo. em águas turvas entro com pedras nos bolsos da camisa que me cobre o corpo. o mar me chama. a tristeza de mim, empurra cada passo dentro da água pontilhada de estrelas que deviam estar no céu.
Cortazar me disse que a violeta é uma cor triste.
eu acreditei. mas uma violeta viva se atirou de um décimo andar na avenida que olha pro Atlãntico, bem a meus pés, então entendi a tristeza de ser violeta.
é mesmo triste ser frágil. a dose a mais ou a menos de cuidado... fere, castiga, rasga e mata.
violeta que sou e nem sabia, me atirei junto com esta me abraçou no último suspiro do décimo andar onde moras e corri pro mar, catando pedras e conchas pelo caminho areado, e jogando nos bolsos da camisa que guarda um coração que só bate por teu existir, e se tu já és morto em mim, não pode mais existir tal coração.
eu e a violeta entramos no mar e acolhidas fomos pela rainha que nos disse bem vindas ao Paraíso, enfim.
morremos.
eu e a violeta atirada da tua janela.

albanegromonte

escrito após leitura de Virgínia W. em ano qualquer.

Private Moment

... e o olhar dele, banhando de luz o meu, acendeu estas palavras em meu peito descompassado...
"O céu diz que me ama"
(!)
E ecoam a cada amanhecer no compasso único do sentir
Sim, eu sou feliz!

Re-Post (I)


ph Lissa Hatcher


Revirando as páginas deste caderno, reencontro palavras minhas, que refletem instantes outros de inspiração.
E já faz tempo por aqui...
Seguem em replay, para matar a minha saudade.




pois se não é em ti
haverá de.
outra luz, outro sol, outro amor.
nuvem de açúcar acender em bemóis atrapalhados
sinos tocarem e o céu abrir uma janela pro meu sorriso.
se não em ti
será.
outra boca,
outro beijo,
outro peito.
eu, mulher de pescador, ao vento
beira do mar poente
esperando a volta
o cheiro de sal
o gosto de mar
a mão calejada das pelejas com sereias e Poseidon
a me invadir os cabelos negros então.
por não ser mais tu,
eu serei.
um dia feliz assim quase sem querer
só pra ser.

albanegromonte

outubro 21, 2008

Presente...

... que recebi da minha amiga Valdete.




(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo)

Carlos Drummond de Andrade

ps: A Valdete mora aqui, ó: http://pereiravaldete.blogspot.com/

outubro 19, 2008

Haver





Estivesse ainda entre nós, faria hoje 95 anos.


Saravá, Vinícius













O haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-­se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.




Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.


in "Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas"

De Julio

“Um dia de minha vida é sempre algo muito bonito, pois sou feliz de estar vivo. Não tenho nenhuma intenção em morrer, tenho a impressão de que sou imortal. Sei que não o sou, mas a idéia da morte não me molesta e tampouco tenho medo. Nego-lhe a existência, logo, isso me ajuda a viver de uma maneira, como posso dizer, sob o sol, solar. Sou contente por estar vivo e, além do mais, há algo que poucos levam em consideração. Creio que é um prodígio maravilhoso que todos nós sejamos seres humanos, que estejamos no mais alto da escala zoológica, por um acaso puramente genético. Por que tu não és responsável por ser quem és. Todos nós viemos de uma longa cadeia genética, e quando vejo uma galinha ou uma mosca que também nasceu nessa mesma cadeia genética, me maravilho por ser um homem e não uma galinha. Eu sou um homem, com tudo de bom e de ruim que isso tem. E estou contente por ter uma consciência”.

Julio Cortazar

outubro 17, 2008

Divina Morte




The Abduction of Psyche
William Bouguereau



a Francisco Silva,sertanejo que enfrentou a Morte com dignidade


novelo da vida, sofrida
desenrolado na boca do gato preto.
no espelho vejo.
é chegada a hora.
vem.
desperta-me o sonho acumulado
nestes dias de dor
arranca-me do peito o último
bater do tambor da vida
e me alivia o pranto.
traz-me o encanto do esquecimento,
o fim da guerra inútil
que travou-se neste corpo.
Cumpre teu destino
de anjo
e
traz, enfim,
a paz que eu mereço nesta Vida,
Morte.

albanegromonte, em 1991

Pessoa Para Mendigo


Era um dia comum. Sol forte, poucas nuvens, ar parado. Uma flor seca estremecia sob os pneus do caminhão de lixo e Mendigo fumava um toco de cigarro que trazia uma marca de batom. Olhou para o céu claro, fuçou os bolsos em busca de nada e atirou um pouco de nada no asfalto quente. Mendigo sorriu para a menininha que abraçava a babá, e ela devolveu-lhe o sorriso com a mesma boca banguela. Dentes, pra que dentes, quando não se tem o que mastigar? Atravessou a rua e parou em frente à fonte. Água limpa. Se puser as mãos me prendem. Se beber, me internam. Sede, fome, solidão. Mendigo caminha lentamente pela praça. Lixo. Sempre tem algo. Olhando pros lados, em busca de um socorro que não vem, Mendigo lança as mãos sujas no cesto e cata...

Um livro. O que faz um livro tão bonito no lixo? Pra que serve a beleza do livro? Não enche barriga. A não ser a de quem escreveu, pensa Mendigo. Folheia distraído as páginas e pára numa frase. Pensa e sorri amargo. Porque diabos ele tinha que abrir este livro?

Senta num banco e começa a ler as frases em voz baixa e gutural de quem não fala há muito. Um cachorro lambe-lhe os pés quase desnudos e cheira o fétido odor da pobreza mais absoluta que vem das suas vestes. Mendigo lê. O relógio da igreja marca as horas que passam sem que ele perceba. E o dia quase termina junto com o livro. Algumas páginas arrancadas deixaram-no curioso frases grifadas com tinta cor-de-rosa e uma dedicatória na última página: "Para Elvira, com amor do seu, sempre seu, Artur.", deixaram-no emocionado. Acha bonito o amor.

Sente a pequena fisgada no centro do seu corpo e sabe o que significa. Fome. Mendigo tem fome no corpo, mas sente a alma alimentada. Levanta-se, marca uma frase com um palito de fósforo queimado, guarda o livro no bolso e segue. Pensando no que leu, Mendigo revê sua vida em quadros a correrem pela sua cabeça... A infância desgraçada pela atitude do pai, a mãe se prostituindo, a violência de casa, da rua, do orfanato, o esforço para estudar, o roubo que não fez, a injusta prisão, o emprego no cais, a mulher que amou e o traiu, a bebida que destruiu seu fígado, seus sonhos, os filhos que o renegaram, a rua, a rua, a rua... amarga e doce rua, com seus postes, seus pontos de ônibus, seus passageiros, caridade, caridade, caridade... a sopa no fim da noite, o toco de cigarro no chão, a lapada de cana que ia pro santo, o frio, o sono, a polícia, o sinal, o sinal, O SINAL !!! Grita alguém, mas Mendigo não vê, e o caminhão de lixo que trazia em seus pneus uma flor seca e estremecida, range freios mas é tarde, é tarde, é tarde... Mendigo abre os olhos e nada sente ou vê. Leva a mão ao peito e suspira uma dor tão grande de deixar essa vida bandida que era a sua... Justo agora, que sabia ...

A mão suja cai na poça de lama, e um rapaz vê as páginas do livro virando ao sabor da leve brisa que agora passa, pega o livro e lê a frase grifada em carvão: "Venha o que vier, nunca será maior do que minha alma". Sorri e joga o livro no chão morno. "Pessoa para mendigos... Faltava essa".

E em algum lugar do Universo, um Mendigo é recebido por um homem magro, de óculos , com um chapéu na mão, e segue feliz, ouvindo as poesias das páginas arrancadas...

albanegromonte

Para Nabokov


Entrou no elevador carregando a correspondência e o pote de sorvete. No apartamento acendeu a luz e ligou a TV. Depois do banho, cheirando a sabonete, pingou uma gota de perfume entre os pêlos bem cortados do sexo e vestiu uma calcinha branca. TRIMMM... era ele. Deixou o telefone tocar mais uma vez, depois apagou a luz e deitou no chão... Agora ouvia. A voz não tinha nome, não tinha rosto, mas dizia tudo que seu corpo precisava. Desbravava a própria pele, que incendiava às palavras dele. Penetrava-se em dedos e unhas , molhava, ardia... fechava os olhos e a voz lhe enfiava a língua no ouvido, nos seios, no umbigo... gemia ... o prazer vinha devagar, num crescente absoluto, de dentro da sua alma, tornando a voz rouca, até explodir em grito sustenido. Ainda em transe de gozo, desligou o telefone, vestiu um pijama de lã e sentou-se para esperar a novela começar. Enquanto tomava o sorvete de chocolate.

albanegromonte

Da Série Pequenos Colapsos (III)


Que tipo de amor, vai embora sem deixar marcas?Que tipo de amor deixa você prosseguir tranquilamente sem sentir pontada qualquer de dor?Onde existiu amor, sempre sobra depois a dor.Felizmente, para mim, onde existiu dor, hoje se esbalda o amor...
Mas como sou poeta, posso sempre fingir, onde não mais encontro dor, que há. Pois é desta cor que se faz a Poesia.
Vermelha.


E quando minha alma se inclina, tanto que
tropeça nas dormentes das linhas que o Destino riscou nas minhas mãos,
volteio correntes de flores que deposito no altar do Tempo.
Dragão tatuado no meu pescoço pisca centelhas de fogo celestial,
e dobro os joelhos diante do espelho que reflete a cruz que dorme no meu
umbigo


(imploro ao vento: me leva daqui)


Então através da cortina do sentimento que corre feito trem nos
sulcos da minha face, observo o quarto vermelho sangue
logo ali no peito cicatrizado, onde
acontecimentos tardios,
detém-se nas paredes e átrios
remoendo e colhendo flores de dores, de desenganos e de saudades,
rasgando feridas
desfolhadas e inacabadas
dentro deste quarto vermelho,
para onde o vento Mistral que soprou vida em mim,
leva na sua dança de mistérios,
as evidências da morte que ali se fez há tanto.

(contemplo os campos repletos: gosto daqui)


albanegromonte

outubro 16, 2008

Eu Sou Trezentos

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo…
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Mário de Andrade

Pit Stop Providencial


Esta imagem eu salvei num passeio pela web há algum tempo (junho, acho). Guardei, por achar interessante.
Eis que hoje, enquanto organizava o post anterior, vislumbrei no pensamento a impossível caneca de café para me fazer companhia, e então meu Google mental achou esta gracinha nos arquivos esquecidos.
Não resisti...
Se algum dos meus seis leitores souber a autoria do desenho, suspire por aqui.
Alguém aceita um café?

Da Série Poetas do Mundo (Portugal)




Das terras lusitanas, sabe-se que há um borbulhar de talentos literários. Talvez esteja no código genético destes nossos "irmãos", quem sabe na presença absoluta do mar ali em frente, nos ancestrais mouros, na proximidade com as culturas outras... não sei e quem saberá? O fato é que Portugal premia (a quem de perto observa), com estes escrevinhadores intrigantes.
Eis um.


Trevas

Para o Manuel de Freitas


E o pior é que chamamos liberdade
a um tapete que, rolante, já não ouve
a opinião dos nossos pés; que nos leva
para onde e anuímos, alheados,
aos mecânicos desígnios do terror.

Respiramos cadeados, consumimos injustiça,
damos duas várias voltas ao risonho torniquete
que nos serve de chapéu; trocamos a cabeça
por um prato de aspirinas. Os clássicos da vida
sem tristeza nem remorso (Cinderela,

Varadero, off-shore) iluminam o cenário
em que dormimos, inocentes como balas
e nem sei como não somos mais felizes.
As rémoras, os ogres, os deuses mais bonitos,
velam nossa carne como grifos educados.

O tratado das sementes, o saber do lenhador,
queremos lá saber de quem é pobre como nós.
Confiados ao acaso, disputamos amuletos,
reforçamos sob os pés a solidez do desacerto,
colocamos outra pedra no sapato.

Para o centro do inferno dirigimos
este filho, o filho deste carro,
cativados pelo direito conquistado
de entregar os nossos dias, como rezes,
ao cutelo de despachos infiéis.

Neste cerco, viver é uma questão
de prorrogar o desalento, de iludir
o infortúnio: cerramos uma porta suicida,
desatamos a gravata, ficamos satisfeitos
quando o gelo, na bebida, é de boa qualidade.

Se olhamos para o chão desaparece
o horizonte; se olhamos para o céu
ficamos sós. Não percebo como rimos
quando pedem que posemos para a foto
de família. Alguém nos enganamos.

Confundidos pelo surto de mentira,
leiloados pela última hipnose,
enxertados no pedúnculo da morte,
semi-envergonhados, de sorriso padecido,
dizei-me se este rosto de cartão amarrotado,

se esta alma como um campo pedregoso,
se estes pés adaptados ao espinho,
se isto que nós vemos é um homem.

José Miguel Silva


José Miguel Silva nasceu em Maio de 1969, em Vila Nova de Gaia. O seu primeiro livro, O Sino de Areia, foi publicado em 1999. Sobre o seu mais recente livro, Movimentos no Escuro, Pedro Mexia escreveu: « José Miguel Silva demonstra uma vez mais uma arte poética que se distancia de um espontaneísmo ingénuo e escolhe um trabalho poético intenso mas discreto. Não se vislumbra aqui nenhuma espécie de formalismo, apenas uma sensata sabedoria estrófica que desencadeia poemas construídos palavra a palavra, que evitam clichés e jogam no inesperado vocabular.» Outros livros de José Miguel silva são Ulisses Já Não Mora aqui (2002) e Vista Para um Pátio seguido de Desordem (2003).
Excertos de uma entrevista dele para a revista Alcatéia, em 2005. Tão bons quanto um poema dele, na minha opinião.

"O que me levou à literatura começou por ser a emulação dos escritores que lia e admirava. No meio do caos da realidade e das emoções, a literatura parecia surgir como uma promessa de sentido, de sentido estético e moral. Uma espécie de baluarte contra a estupidez do mundo. Hoje em dia sou muito menos otimista quanto ao poder salvador (para usar um termo de origem religiosa) da literatura."

"Atualmente a literatura não tem nenhuma influência na vida pública ou política, pelo menos em Portugal. Mas no nível pessoal, individual, claro que a literatura pode ser, se não libertadora, pelo menos estimulante do ponto de vista mental. A poesia é a anti-rotina por excelência, é a criação da surpresa, tal como a vida deveria ser."

"Já não faz muito sentido, creio, a disjunção poesia e prosa. Num tempo em que a poesia tende a saturar-se (e a anular-se) em vistosos efeitos sonoros, o que me interessa, sobretudo neste momento, é a possibilidade de dizer coisas, de transmitir frases com sentido, de fazer perguntas que se entendam. Fogos de artifício verbais e outros floreados são bons para quem não tem mais nada em que pensar."

"O humor é uma linguagem universal. Se eu tenho a vaga aspiração de poder ser entendido pelas pessoas comuns (que, contudo, não lêem poesia), penso que o humor poderia ser uma chave de acesso. Uma das coisas mais desagradáveis na poesia e na vida portuguesa é a falta de sentido de humor (ao contrário do que ocorre na vida brasileira, por exemplo)."

"Os escritores portugueses são quase sempre muito sisudos e solenes, enchem a boca de palavras gordas (ou tão evanescentes como asas de libélula) e com isso só conseguem provocar um sono mortal. O humor é importante porque, se não encaramos a vida como uma comédia (ainda que de mau gosto), só nos resta encará-la como uma tragédia (que também é, é claro)."


Inspirei-me aqui:
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com
E aqui:
http://rascunho.rpc.com.br/index.php

Post dedicado ao meu amigo e poeta das terras d' além mar, José Braz

outubro 07, 2008

Da Série Pequenos Colapsos (II)


tem uma dor que me adverte aqui bem dentro do peito:
não siga, não volte, não pare
apenas talvez.
ou sim.
tem uma flor amarela que se despe na minha memória e que se existiu não foi hoje;
ontem, amanhã? tanto fez.
tem um minuto inteiro que não cabe no pulso, no relógio,
no tempo que tive para dizer que esqueci daquele cheiro da pele que se vestia
em luz
e que acendia em mim
velas de prantos mudos, incautos prantos.
tem um tanto de saudade crescendo aqui no bolso da camisa que mostra meu coração
batendo,
ondulando,
catando conchas de mar dissoluto,
relendo páginas,
alimentando agonias que cavalgam nuas pelas histórias que deixei de contar por
ali de onde eu vim.
e de cá, onde fiquei.


albanegromonte