junho 28, 2015

Poesia do Sàbado

Primeiro esqueci o cheiro
E ao acordar já não senti o sabor da sua boca

Depois o corpo tornou-se memória
Em vez de impressão
Esfumado, perdido, inglório

O seu rosto desaparecia
Ficavam quase nem os contornos

E no fim sentia só uma tristeza
De promessa feita e não tornada

Miguel Soares

junho 24, 2015

Quarta da Poesia



Parecia-me que este dia
sem ti
devia ser inquieto,
escuro. Em vez disso está repleto
de uma estranha doçura, que aumenta
com o passar das horas -
quase como a terra

após um aguaceiro,
que fica sozinha no silêncio a beber
a água caída
e pouco a pouco
nas veias mais profundas se sente
penetrada.


A alegria que ontem foi angústia,
tempestade -
regressa agora em rápidas
golfadas ao coração,
como um mar amansado:
à luz suave do sol reaparecido brilham,
inocentes dádivas,
as conchas que a onda
deixou sobre a praia.


Antonia Pozzi (1912-1938)

Tradução: Inês Dias