janeiro 13, 2009

Ana C.


acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três outros rostos que amei.
num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
qual tarde de maio
como um trunfo escondido na manga
carrego comigo tua última carta
cortada
uma cartada
não, amor, isso não é literatura.



Ana Cristina César

janeiro 08, 2009

Não, Não É Poesia


Carta de uma mãe árabe

copiei esta carta, no blog do Marcelo (http://yohoy.blogspot.com/)


Aqui neste meu cantinho, costumo postar apenas versos que acho por aí- nos livros, na web, na minha cabeça ou no meu coração-
Vez por outra, uma notícia que me fez pensar um pouco mais. Entretanto, nos últimos dias, vem surgindo quase sem querer, uma sequência de fotos e referências a esta barbárie que ruge nas entranhas dos selvagens homens do planeta terra.
Ao visitar meus amigos cronopios outros, achei esta carta no Yohoy.
Desnecessário dizer mais.
Lá, podemos ler a resposta do Marcelo e mais outra carta da Fatima.


"Ontem , estava assistindo ao noticiário e vi umas das cenas mais revoltantes da minha vida , e olha que já vi coisas terríveis desde que me mudei para o Oriente Médio (se estivesse no Brasil com certeza não seria exibida)
Um pai chorando , carregando seu filho , uma criança de 2 anos morta e em seu desespero ele pedia ao cinegrafista que mostrasse o "TERRORISTA" que o exército acabara de matar ... O choro deste homem , me provocou uma imensa dor , mas um sentimento maior :REVOLTA ... Tenho um filho da mesma idade , coloquei-o no meu colo e comecei a chorar .... a cena é uma entre milhares que são exibidas todos os dias nos noticiários daqui ... e se descrevesse-as correria o risco de ser chamada de exagerada ....
Não consegui dormir a noite , olhava a todo momento os meus filhos .... como se o meu olhar os protegesse ... e me perguntava como deve ser o sentimento da mães palestinas que nessa noite tão fria no Oriente Médio , não conseguem proteger seus filhos do frio , da fome , mais acima de tudo do terror que estão passando , .... não consigo pensar em nada que me faça diminuir minha revolta ... tenho chorado constantemente , e meu olhar dirigido aos meus filhos ... eles me perguntam se estou com UAUAA (dor ou machucado na linguagem infantil aqui) , digo a eles que sim , estou com UAUAA , seguida da pergunta - onde está a UAUAA mama? aponto meu coração ..."

FATIMA MUSTAPHA

Ela Não Partiu





“Sinceramente, eu não gosto da palavra volta. Ela insinua que a gente partiu, e eu nunca parti. Eu sou um pouco barco; barco de pesca que vai ali e já vem sem mesmo sair do horizonte nosso de cada dia. Eu nunca parti. Eu fui ali e já vim”.

Maysa, na contracapa do disco lançado em 1969, quando voltou ao Brasil, depois de três anos morando na Europa

janeiro 06, 2009

Sorvendo

entre a dor que não existe, e este espaço em minha alma
existe a lembrança de um sonho que tive
onde era você, um dia
e eu, a noite que dizia amém
a toda e qualquer oração que cingisse
o saldo da saudade imensa deste olhar que me alcançava em tardes que não mais.
éramos então, soltos de grilhões outros
e hoje
nem sei mais.
apenas teu vulto cansado que sentado a meu lado em nuvem de algodão tosco,
olha ao redor e sente:
o tempo que era de ser, se foi
hoje, apenas torcer para que exista algo além da sanidade que me foge do negro olhar.

albanegromonte

No Espelho



"Sabes o que notei em mim? Que a minha pele já não é como antes, que mudou sem que tenha descoberto uma ruga a mais. São sempre as mesmas rugas, as que tive aos vinte anos, só que cavadas, acentuadas. É um sinal, e de quê? De uma maneira geral, sabe-se onde isto nos leva: ao final. Mas além disso? Com que rostos vamos desaparecer, tu e eu? Não é envelhecer que me assombra, mas a desconhecida que sucede a uma desconhecida".



Ingeborg Bachmann

Selvageria


Picture taken by a mobile phone. Sent by Prof. Said Abdelwahed, Gaza, Palestine

Vale a visita:
http://gaza08.blogspot.com/