abril 22, 2009

... e na tortura




... toda carne se trai.
(Zé Ramalho)

Esta sublimação criativa de imagens reais de tortura feita pelo blog Logofesto, evidenciam a brutalidade humana dos cárceres "especializados" em arrancar confissões.


http://www.flickr.com/photos/legofesto/

abril 21, 2009

Para Não Esquecer Auschwitz





Israel parou totalmente durante dois minutos nesta terça-feira, 21, enquanto alarmes de bombardeios aéreos soavam por todo o país para lembrar os seis milhões de judeus que foram mortos durante o Holocausto, na 2.ª Guerra Mundial, há cerca de seis décadas.

abril 17, 2009

Imitação do Dias




Preciso ler, saber além dos poemas que encontro aqui e ali soltos nas páginas invisíveis da web, que folheio quando o Vento Nordeste acalma minha embarcação que por instantes vaga serena, aguardando as tempestades várias que nos
acorre nestes dias de trovão...
Preciso ler, saber mais deste José das terras d' além mar.
Este trecho do livro Imitação dos Dias, chamou-me ao coração, aquele palpitar gostoso que antecede uma boa leitura.




"Últimos momentos.

Estertor. A Morte escancarou as portas de par em par. Fala-se em voz alta. Já ninguém faz cerimónia. Só a dona da pensão, que desde a véspera choraminga pelos cantos, parece agora alheia ao desenlace que se aproxima. Apoiada a uma bengala lenta, vem acender o fogareiro de petróleo.
– Para ferver a agulha... – principiou a explicar.
Mas cala-se, com hesitação desconfiada de nos ver de repente tão graves.
– Para ferver a agulha... – insiste ainda.
Então, ouve-se lá de dentro um grito rouco... E pronto. Silêncio. O terrível silêncio dos homens inteiriçados que nos une a todos no mesmo nó no coração. O Carlos de Oliveira (transido e cada vez mais pasmado de se morrer assim...). O Mário Dionísio (afinal toda aquela frieza aparente não passa de ternura adiada...). O Joel Serrão (em que até os olhos pararam de rir...). O Armindo Rodrigues (o Armindo dos grandes momentos, dedicação em carne viva...). O Faure da Rosa (mais pálido e com uma espécie de aceitação cortês da nossa morte-morte sem remédio...).
Silêncio. O terrível silêncio dos homens deitados – interrompido apenas pelo rumor da chama votiva do fogareiro de petróleo do 3.º esquerdo..."

in José Gomes Ferreira (1900-1985), Imitação dos Dias (1966; 3.ª edição, 1977).

Curiosidade




Em 1961, a pintura Le Bateau de Henri Matisse esteve pendurada ao contrário
durante 47 dias numa exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
116,000 visitantes passaram pela exposição antes que o engano fosse descoberto.

abril 16, 2009

Non Liquet

Este é o nome de uma das portas que se abre para meu deleite literário. Seu criador, Djabal, é alguém que aprendi a admirar, pelos textos que escreve, pelos comentários sempre elegantes, pelas citações magníficas com que nos brinda na abertura do seu site...
Enfim, por existir e me honrar com sua visita aqui nas minhas anotações.
Hoje, após minha visita quase diária, e deixar minhas impressões sobre seu último texto (excelente, por sinal), não resisti e roubei na cara dura esta pérola machadiana.
Evohé, Djabal.
Bom mesmo que você existe (ainda que não em papel- lembra?)
Aquela coisa toda pra você!
ps:Recado aos quatro outros leitores:
O endereço está aí logo ao lado. Confiram.



"A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento; se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre".

Machado de Assis

Da Série Capa de Livro




A designer brasileira, Elaine Ramos, conhecida por sua maneira simples e ao mesmo tempo ímpar de criar capas de livros, é a responsável por esta beleza aí!
A capa evoca o título de um dos poemas, ao mesmo tempo que o título do livro: linhas horizontais azuis em degradé, com pequenas "estrelas" brancas que na verdade são números (de 1 a 50- tantos quantos poemas residem lá dentro).
Genial.





50 poemas escolhidos pelo autor
Manuel Bandeira
Posfácio: Augusto Massi e Carlito Azevedo

Numa obra que não ultrapassa 350 poemas, os cinqüenta reunidos neste livro são claramente uma síntese da poética de Manuel Bandeira, feita por alguém que a conhece como ninguém, ou seja, o próprio poeta.
O leitor se surpreenderá com os novos significados que brotam a partir do rearranjo (encomendado a Bandeira pelo poeta e editor José Simeão Leal, do antigo Serviço de Documentação do MEC) e com as articulações inesperadas entre poemas muitas vezes lidos, relidos e nem por isso já inteiramente desvendados.
Do ácido "Os sapos" à tranqüila "Consoada", estão presentes na antologia os temas dominantes em sua poética: a poesia, o erotismo, o Recife da infância, a religiosidade.
A edição é acompanhada de um CD com 29 poemas lidos pelo próprio Bandeira, um material raro, que durante décadas ficou restrito aos colecionadores, e que sai agora em edição limitada.

Prêmio Jabuti 2007 de Melhor capa (3º lugar)

O LIVRO INCLUI UM CD-BRINDE COM 29 POEMAS LIDOS PELO AUTOR

(resenha da própria Editora)
http://www.cosacnaify.com.br/portal.asp

abril 14, 2009

Número Um



Nos dias de hoje, estes dias de trovões com tantas notícias estranhas e lançamentos de coisas que ninguém quer ver (na verdade alguém deve querer, pois são lançados...), eis que surge uma luz no meio do túnel (fosse no fim, todos já sabem que seria o tal trem em direção contrária): uma revista literária de muito, mas muito potencial: Serrote. Do Instituto Moreira Salles (aquele que publica os Cadermos de Literatura que são muito bacanas.
Um time de escrevinhadores de primeira divisão.
Uma proposta no mínimo, intrigante.
Dei uma espiada básica e já gamei no editorial que "copieicolei" para deleite dos meus 5 leitores.
Ah, e já fiz a assinatura, pois nada substitui o prazer de folhear as páginas e sentir o cheiro das palavras.
Bons ventos a mantenham, Serrote.
http://www.revistaserrote.com.br/index.html


Tremo quando examino o serrote. Murilo Mendes


O ensaio é um gênero sinuoso. Ele parece fácil, mas é um perigo. Um descuido – você rola abaixo em uma escada sem corrimão.• O ensaísta sabe onde começar, mas nunca sabe onde acabar: o desvio, a vereda e a curva à beira do abismo são sempre um convite. Não se perder e não escorregar já seriam duas grandes coisas.• O ensaio não tem pedigree. É um gênero que resiste às definições, cioso da sua condição de maverick. O espírito livre é quase tudo em um ensaio (alguém chamou isto de heresia).• No Brasil, ele tomou forma acadêmica, o que é uma pena, pois fica sem o que tem de bom, a espontaneidade. Por causa dela, Vinicius de Moraes achava que o essay estava na origem da brasileiríssima crônica. O ensaio ideal poupa citações e supõe que as notas de rodapé são um terreno minado.• Na década de 1990, o ensaio renasceu nos EUA, no vácuo do crescimento do interesse pela narrativa de não-ficção. Hoje em dia, no mundo literário americano, ele até se confunde com certo tipo de reportagem mais pessoal.• O Instituto Moreira Salles lança esta serrote por acreditar que, em sua multiplicidade de tons e vozes, o ensaio se fixou como gênero indispensável à reflexão e ao debate de ideias.• serrote complementa as atividades do Instituto. Com espírito público e dotação privada, o IMS contribui ativamente para a vida cultural brasileira há quase duas décadas. Ao virar estas páginas, aliás, o leitor encontrará, aqui e ali, vestígios de seu inesgotável acervo.• Os editores querem fazer desta quadrimestral um espaço para se publicar ensaios – originais, independentes, bem pensados e bem escritos – no Brasil. Quem edita a serrote tem como horizonte o espírito daqueles que viram, no ensaio, o jogo e a felicidade, e, no ensaísta, o homem liberto.

abril 10, 2009

do Livros e Afins

Jorge Luis Borges encontra Mick Jagger

Segundo María Kodama, viúva de Jorge Luis Borges, o escritor teria se encontrado com Mick Jagger em certa ocasião e o encontro teria sido um tanto inusitado:

Le encantaban (os Rolling Stones), también decía que tenían una fuerza increíble. Un día estábamos en el hotel Palace de Madrid, esperando a que vinieran a buscarnos para cenar, y veo que viene Mick Jagger. Se arrodilla, le agarra la mano a Borges y le dice: “Maestro, yo lo admiro”.

Borges, un poco asombrado, no lo veía, dice: “¿Y usted quién es, señor?”. Y él responde: “Soy Mick Jagger”. Borges dice: “Ah, uno de los Rolling Stones”. Mick Jagger casi se desmaya y pregunta: “¿Cómo maestro, usted me conoce?”. Y Borges dice: “Sí, gracias a María”.

Yo le había contado a Borges que en una película que se llama “Performance” aparece una gran foto de Borges y creo que Mick Jagger leyendo a Borges.


Roubei na cara dura, esta coisa linda lá no blog do Alessandro Martins (Livros e Afins), que está linkado logo ali nos Cronopios Amigos.

abril 02, 2009

Para Mané

(... Bandeira, por ocasião do lançamento de uma revista eletrônica, já extinta, onde o mote da edição era: Estrela De Uma Vida Inteira. Este foi o editorial caótico que escrevi naqueles idos de 2002)


Motes sugeridos inspirando, resgatando, rodeando as telas/papéis, movimentando dedos/tintas, fortalecendo razões, expondo sentimentos, reestruturando sonhos, idéias que vão/vêm no balanço duplo e delicado das comunicações neuronais com as batidas do coração vibrando no peito. Gente que parte/fica, no temor de não reconhecer que o sonho se realizou, sim. Amor visceral que explode em verso/prosa, em todas as formas que a arte pode/deve ser expressa. Instantâneo momento que vira fotografia de toda uma vida parida de luz. Murros dados em ponta de estrela que se indaga porque tão cortante/brilhante. Joelhos dobrados, cativos de um passado de gesso solto nos bytes mundo a afora. Coincidência do dia consagrado, a ela, Poesia, inspirando mais e mais o desfraldar da bandeira. Poeta resgatado do fundo do baú, entregue pelas mãos da filha in memoriam, buscando o reconhecimento e renascendo por estas páginas que os dedos não passam, com o sorriso aberto de quem nem imaginava um dia ter esta configuração de andarilho. Estrelas rasantes, alegres/tristes, dependuradas nos céus das bocas todas que falam tudo sem voz, estrela farol do dia escondida sob a casca do homem-criação, estrela que se pergunta o porquê de ser eterna... Letra de poeta-homenagem a si mesmo, que diz lamentar a vida que poderia ter sido, e que foi, se voltarmos os olhos para o seu verso complemento: Poesia minha vida verdadeira. Imagens da cidade celebrada quase fora da realidade, em preto e branco que são as cores da saudade. E como ser andarilho consiste em percorrer estradas inventadas ou não, relata-se encontro entre bambus, flores e gentes, pelas ruas quintaneiras e quentes. E como ser poeta, consiste em poetar inúmeras vezes, a palavra que comenta o texto se transforma também em poesia e a enxurrada carrega/preserva o dizer poético de quem dá e recebe o presente andarilho de virar obra de arte, em parte, pois o inteiro é livre, entregue à alma e aos empilhamentos do Universo tão cheio de metáforas. Enfim eis o terceiro espaço preenchido pela bandeira da estrela... explicitamente implícita nos quatro elementos... Terra de criação, ar de devaneios, água de vida, fogo de paixões. Sóis satélites desta vida tão inteira, que poderia ser, mas sendo, é, o que se quis e se pensou que não.

albanegromonte