julho 30, 2006

Goethe era Cronopio




"Que te importa se te amo?"

Goethe

de Um Vinho à tarde


Tanto Tempo, e nada passa neste tolo coração que teima em sentir tua ausencia empoeirada nos restos deixados na casa que um dia foi tua também.
O Sol me acorda todos os dias e me diz solene que é feliz.
A Lua me acalenta as pernas através dos lençóis mesmos que te cobriram um dia e me diz também com mais cuidado... Ele é feliz...
E eu persigo este esquecimento que não vem.
Esta dor que me atormenta noite e dia, como se fosse eu um templário que precisa se castigar pelo pecado de amar sem fronteiras de nada.
Minha pele te acha nos mais escondidos desejos, e meu corpo cansado de buscas inglórias implora teu toque, tua voz serena e plena em meus ouvidos.
Onde estás eu sei.
Bastaria um passo, dois passos e me postaria em tua porta pra acreditar nesta verdade absoluta que deuses e demõnios me clamam sempre que abro os ouvidos pra eles..
Mas recuo. Mudo o caminho. Evito os lugares onde sei, estarás.
Acendo velas, rogo aos deuses, procuro xamãs e este amor não se vai.
Trezentos dias de dor e desprazer.
Trezentos dias em que hesito entre a bala de prata, a imensidão do mar, ou uma parede bem colocada.
Pedras no meu bolso.
Vazio no peito.
Não me permito a felicidade que assombra meus medos.
E se de novo for um engano?
Por que me deixaste no abandono?
Com que tortura me arrancaste a alma, a vontade de viver, a sanidade.
Com que direito me tomaste o que mais tinha em mim?
Alegria de viver.
Quimera hoje imposível de alcançar.
Tuas canções ecoam pelo corredor
Tua marca, marca o colchão e teu cheiro persegue minhas narinas
Meus olhos te vêem através do real sentido de que enfim
Nunca foste mesmo, meu.
Tanto tempo.
tantos enganos.
E eu aqui, sentada no muro.
E quem tirou o tijolo?

albanegromonte

julho 29, 2006

Destarte


orquídeas de pano se acumulavam nestes anos de procuras vãs,
e eu, desavisada do que era prazer, limitava ao gesto vago, ao suspiro fugaz,
o que se chamava desejo.
mas hoje, sem aviso ou preparo
as orquídeas desvestiram os molambos
e se abriram em luz&cor
e como se não fosse eu, mulher feita
desvirginei o prazer da rosa ensanguentada no lençol de seda branca.
descobri quase tardiamente o que existe por trás do silêncio do tempo que se revigora
na carne, na pétala desfolhada,
no perfume dos cabelos lavados
da flecha em arco
sobre meu corpo suado
descobrindo antes do apocalipse
que sou mulher.

albanegromonte

julho 24, 2006

El Canto De Los Cronopios




Cuando los cronopios cantan sus canciones preferidas, se entusiasman de tal manera que con frecuencia se dejan atropellar por camiones y ciclistas, se caen por la ventana, y pierden lo que llevaban en los bolsillos y hasta la cuenta de los días. Cuando un cronopio canta, las esperanzas y los famas acuden a escucharlo aunque no comprenden mucho su arrebato y en general se muestran algo escandalizados. En medio del corro el cronopio levanta sus bracitos como si sostuviera el sol, como si el cielo fuera una bandeja y el sol la cabeza del Bautista, de modo que la canción del cronopio es Salomé desnuda danzando para los famas y las esperanzas que están ahí boquiabiertos y preguntándose si el señor cura, si las conveniencias. Pero como en el fondo son buenos (los famas son buenos y las esperanzas bobas), acaban aplaudiendo al cronopio, que se recobra sobresaltado, mira en torno y se pone también a aplaudir, pobrecito.

Julio Cortazar

julho 23, 2006

Dis-Mois Comment

ph Eduardo Barrox


e se já perdi a noção da hora, quando chegam as madrugadas e só tua lembrança se faz presente nesta mente que desmente todo dia, o diagnóstico do terapeuta maluco descalço que me atura a toda quarta-feira, na hora do rush, fim do dia, quando todos se dirigem velozmente pra casa e eu sigo chorando pra mais uma noite de trabalho. meu coração quase derrapa na curva molhada a mais de cem, e bate rebatendo todo este bem-querer amaldiçoado pelo Deus de barbas brancas fora do molho, pois não teve nem coragem de me salvar quando mergulhei nas tuas palavras e em definitivo a diagonal do meu caminho se cruzou na tua esquina e eu me perdi, me afoguei, me deixei levar qual peixinho de aquário pelas patas de um gato negro que vi na TV. quadro a quadro vou escrevendo nossa história pelo ponto de vista de quem está totalmente apaixonada e se recusa a ler nas linhas das mãos que o destino fica do outro lado da cidade, e não do País. é bom que o pneu do meu carro esteja quase furando com um prego enferrujado há dias encrustado em sua pele negra, pois só isso e o IPVA atrasado me impedem de seguir esta estrada finita que termina no teu quintal, onde patos e galinhas brincam com girafas e leões amestrados. uma voz gutural sai da minha alma e dizendo ser meu ego, se introduz na minha criação divina e me crucifica em cravos floridos que colho nos jardins do hospício onde te conheci, dizendo que este é o grande erro da minha curta e cega vida. não, este ego não me fará te esquecer, até que te encontre nesta ou em outra dimensão, planeta ou vida, que são tantos miligramas de alcool e nicotina na minha cabeça que já nem acredito se isso acontecerá fora da minha imaginação e destes sonhos que tenho todas as noites em que consigo dormir e acordo abraçada com o vazio dos lençois de algodão tão brancos e virginais quanto esta rosa que te envio através do verso que o poeta ressucitado num cantor de rock, disse ser pros amantes do mundo inteiro. rosa selvagem, orquídeas negras, escravas brancas se despindo ante a câmera de TV, travestis loiros e belos como deuses do Olimpo caídos na Terra por engano. tudo isso na avenida que cruza meu quarto quando fecho olhos. minha cidade embaixo de chuva. e o sol se enganando achando que amanhã queimará as peles da patricinhas de plantão nas areias do mar tropical que se balança diante da janela da minha janela que é a janela da minha alma. mas nesta noite eu não quero te falar. esta noite eu queria mesmo era te beijar num beco escuro, sussurrando frases num francês bonito e sensual que te enlouquecesse mais que as minhas mãos na tua nuca e minha pele macia a se colar suada na tua camisa aberta a espera das minhas unhas pintadas em vermelho carmim, qual meus lábios inflamados de desejo, qual as mechas que pintei nos cabelos pra chamar tua atenção. então fecho a cortina invisível deste olhar enviesado sobre tua vida e me volto para meu mundo desértico e caótico, onde sonhar é impossível, pois o concreto armado da vida, torna flácida qualquer atitude lírica. e feito pacote esquecido em sala de espera de aeroporto, me deixo ficar aqui, até que o ponteiro do relógio dê a volta completa na via-láctea e me encontres vestida de branco, cabelos soltos, um livro na mão e uma adaga de fogo na outra, pronta pra queimar todo nosso passado.

albanegromonte

BooK Of DaYs III


Foi para ti e para teus olhos que criei estrelas no céu cinza-escuro onde vez por outra surgia uma lua solitária e carente. Mas estou cansada de magicar teus desejos. Ontem sem nada pra te contar ao chegar em casa, disse quase com descaso, esperando o impacto:- "Soubeste que a ornitorrinca do 201 comprou um brinco de diamantes?" E diante da TV, sem som onde as imagens do replay da Ira de Deus se enroscavam em brutalidade animal, respondeste com ar de enfado:- "Que bobagem, sabes bem que ornitorrincos não tem orelhas!" Aí lembrei que foi uma das primeiras mágicas que te fiz. Inventei bicho de nome esquisito, faltando pedaço, para que tua risada me chegasse em melodia portenha. Sentei a teu lado, sem jeito e ajeitei a mecha de cabelo que caía sobre os meus olhos mudos. E o silêncio de nós ecoou pelas paredes. Um fado em solfejo entrou pela janelamas diante de tamanho vácuo sideral passou adiante. A luz trêmula da TV à nossa frente. Relíquias astecas se alternando com múmias de gatos egípcios e saltos ornamentais de samurais ninjas Reloaded Matrix, ou Revolutions, ao sabor do teu toque nas teclas. Procurei tua mão e me entreguei à memória que trago de ti no canto mais largo e arejado do meu coração bobo-bola-de-sabão. Tequila engarrafada. Dry Martini. My name is Bond. Play it again, Sam. Lufadas de vento frio pelas cortinas envidraçadas. Volteios de desejo em meu corpo nu por baixo do vestido diáfano. Kill Bill, Gary Oldman, Blade Runner, Jude Law in Cold Mountain- que filme! Gattaca, Uma Thurman que é mulher pra mais de metro! O Gato de Botas com o olhar de pedinte qual o meu sobre a tua boca úmida de vinho bebido com a gueixa tropical que se despedia rumo a Paris, quando lá era uma festa. E teu olhar colado no meu braço tatuado. E o grito da rosa laranja na jaula do Tempo.- Ah, Zeus! Onde joguei a chave do cadeado? Cuida que esta rosa morre antes que amanheça e nada mais será como antes, pois quando tudo era o Caos e nem eu, nem tu sabíamos que serámos parte da História, recebemos violetas inertes pra ressucitar. A tua, dorme hoje em vaso de barro, indiferente à monotonia. A minha durou um piscar de olhos, um dia de inseto, o demorar do teu amor dentro de mim. E um pássaro empalhado toca nossa campainha, com os olhos cegos e a garganta sangrando palavras e palavras tantas, que dava pra escrever uma Odisséia em tamanho, um Ulysses em complexidade, um Cortazar em ternura, um Borges em fantasia, um Lorca em rebeldia e mais um tanto de letras que explodiriam o mais hightecnológico brinquedo americano de interconectar pessoas e pensamentos.Tenho piedade deste pássaro petrificado, a quem sobram apenas penas de sangue e palavras a jorrar pela garganta ferida, como cantares antigos de canções medievais ou de bruxas semi-deusas ao redor da fogueira que embalavam os sonhos de princesas que eram, antes de serem tocadas pela lembrança atávica de Lilith, a ciumenta, que ao perder seu amor, transmutou-se em serpente e deu nessa confusão toda que hoje aí existe, de gentes procurando Paraísos Artificiais. E Adão que preferia sua Lua Negra Lilith que sabia das coisas mais que a Santa Eva que só comeu a maçã porque estava mesmo com fome e não pelo querer pecar, ficou mortificado de saudades, mas tinha que obedecer ao Pai. Aí semeou em Eva, Baudelaire e Jim Morrison só pra se vingar assim sei lá de que. E nunca entendo porque as mulheres em Paris se rasgavam em sedas para que Picasso as pintassem, se era tudo orelhas-nariz&olhos... E também noutro dia descobri, pelo dizer de uma poeta das boas, que o escuro do pintor que eu mais gostava, Caravaggio, que na verdade foi o inventor do jogo luz&sombra que se usa hoje nas fotografias e desde o tempo dele que o diabo já sabia e pintava até Cristo que nem numa foto feita em camera digital de muitos megapixels que foi outra palavra que aprendi depois de grande. Ou nem tão grande sou, já que tem tanto assunto nesse mundo, em que só engatinho e tem vacinas que ainda não tomei. Mas os trovões alardeiam o fim do dia, e a rosa laranja agoniza dentro da jaula do Tempo. O Mestre da poeta doce não ouviu o recado na caixa postal do celular negro deixado sobre o altar dos ermitões e sábios intinerantes que rolavam pelas calçadas de uma cidade que tem nome de santo, mas nem é batizada. Estes sábios oravam pelo martírio do Sunday Blood Sunday (quando isso ainda não era nome de música) e também não escutavam nada, além dos gritos de horror das almas espatifadas pelas bombas dos homens-meninos-suicidas que chegaram duas vezes em Setembro. Munique&NY. Hasta la vista, WTC. Fogo, dor, poeira e granito abaixo do chão que onde dizem mora o Demônio com chifres e rabo vermelho. Manitu! Tupã! Xangô! Deuses quaisquer, me ajudem a salvar a rosa laranja que só por ser dessa cor já não nasce outra vez, e eu por castigo reencarnarei mil vezes pra pagar o pecado absurdo de deixar a rosa dos Tempos morrer, enquanto escrevia em grafite nas paredes das cavernas das tribos milenares a profecia de tudo que aconteceu ontem e hoje neste espaço paralelo da minha vida.

albanegromonte

julho 22, 2006

de Angicos


É você a flor que mais perfuma este jardim, onde apeio meu cavalo e guardo meus tesouros. É você, água de mandacaru, minha prenda maior que recebo ao término das guerras todas que já enfrentei... você, minha razão de vida e morte. Sorte sua que eu lhe cuido e mimo. Quer doce de jaca? Trago. Mas não me chama de querido que eu não gosto. Agora me faz um dengo e arrepia meus pêlos com esta língua travada com tanto caju, e me toma a alma que dela eu já não preciso. Aproveita e me leva as botas, que não preciso mais caminhar... troca por um bom par de meias velhas que estas são mais fáceis de pisar no chão de estrelas pontudas que mandei fazer pra você. Não, minha prenda, não vou mais pras guerras e pras matas. Agora que tenho tudo que quero, só falta ganhar de vez o teu amor e ficar por aqui nesta rede que balança a cada suspiro do vento. Mas por que, meu amor, minha prenda, minha flor de maracujá, em nome de Jesus, por que você derramou esta lagriminha por esses olhos que é por onde eu só enxergo o que tem de bom nesse mundo? Por onde é que se espalha esta dor tão funda que te arranca este lamento de bezerrinha desmamada? Eita que se não fala eu não sei o que fazer, minha flor... Olha que perco a paciência se não responde e te arranco à força a resposta... não brinca com quem já brigou com a Morte para chegar até aqui... responde, minha coisinha linda... não chora mais... ou chora mais que eu vou é te bater nesta cara de porcelana barata, vou te quebrar os braços, rasgar tua boca e arrancar tuas tripas... olha que eu vou...
― Pára, Felício, de brincar com a boneca de Marta... O doutor já está chegando... e tira essa fantasia de cangaceiro. Parece que não quer ter alta... E Felício sorri com o olho único, já que o outro foi perdido quando da sua morte lá pelos idos de não sei quando, pelos lados da Bahia... Angicos, eu acho... não sei que também já não lembro mais nada, desde que me arrancaram a cabeça...

albanegromonte

Folie


acordada, estava dormindo. caminhou com pés descalços pelo chão frio da casa. abriu a porta dos fundos, desceu escadas, atravessou portão e pairou cor púrpura na avenida calma àquela hora da madrugada, ultrapassando os sinais amarelos e brilhantes. um guarda cético que passava naquele instante, viu aquela mulher pendurada em nada, com pés brancos de plantas sujas, cabelos negros, olhos abertos e fechados, como se fosse possível tudo num só olhar , flutuando em cores pálidas, em perfumes secos. coçou os olhos, o guarda, fez o sinal da cruz e jurou nunca mais beber. pelas nuvens carregadas da noite sul americana, pingavam gotas vermelhas de chuva. coágulos. e ela, desceu à calçada, ajeitou as alças da camisola e pôs-se a andar até a praia. ouviu sussurro da Rainha do mar, que dizia que voltasse, e dos raios que cortavam o céu ensanguentado, ouvia a espada da Rainha da tempestade, cortar os paralelepípedos à sua frente, criando vãos e pequenos abismos, atrasando seu passo pra ver se amanhecia, e a criatura não conseguisse atravessar estas paredes da sua inocente loucura. mas como quem joga amarelinha, ela pulava sorrindo em contralto, cada pedaço de chão aberto. uma criança chorou ao longe, um gato atravessou-lhe o caminho e se enroscou em suas pernas tentando fazê-la cair. e de joelhos, ela lhe deu o seio. ele bebeu seu néctar lácteo e saiu feliz, esquecido da sua missão. e a chuva vermelha continuava sobre a cidade, sobre as pontes, rios e overdrives. e enquanto o flash de um fotógrafo andarilho iluminava as letras do jornal passado, um pastor de ovelhas saiu de um poema com seu rebanho e atravessou a rua que a separava do mar. e como se fosse bandeira hasteando-se, ela solene subiu em um poste e volteou as lãs que se soltavam dos animais em fila dupla. o Cristo que trazia no umbigo, arrancou-se da cruz e com as mãos feridas transformou em brasas seus olhos acordados que dormiam. mas ela chorou lágrimas de rio que é água doce, e se achou de novo a voar. e na areia pousou. primeiro um pé, depois o outro, e o corpo todo inteiro a sonhar. deitou-se na areia macia, olhou pro céu que se alaranjava que nem a cor do girassol que o pintor sem orelha um dia falou numa canção que em vez de nome, tinha número e dizem, que seu autor se foi, mas um poeta outro dia tomou vinho com este mesmo menino que tocava piano, junto a uma lareira e com um cachorro aos pés. parece então que não morreu. uma estrela-do-mar, caminhou até ela, e cochichou algo no seu ouvido. e ela num salto de trapezista, sumiu no primeiro raio de sol que secava os coágulos da chuva que se ficaram nas folhas e árvores, e ressurgiu na própria cama, envolta em lençóis de cetim, com os pés descobertos imaculadamente brancos. em sonho sorriu um sorriso quase feliz de quem recebeu carta de longe. seu respirar ritmou-se com o canto do rouxinol que pousou na janela. uma violeta se abriu, o galo cantou, o vento assanhou as páginas de um livro de poesia. e o dia se anunciou com a batida de asas de um colibri que por ali estava, tentando avisar que a vida venceu.

albanegromonte

Homenagem implícita:Win Wenders, Fernando Pessoa, Van Gogh, Mozart, Frida Kahlo, Chico, Iemanjá, Iansã, JM Restivo Braz, Adélia Prado e Eduardo Barrox.

Dezembro Qualquer


e como da primeira y segunda vez, em meses distantes em números pares e discretamente redondos, te espero com velas y incensos mais poderosos que a fumaça do teu cigarro. and, sem blues e jazz, pois ainda não sei se dura um poema esta nossa história, deixo que o silêncio fale por mim e te diga que sim. é bom você rasgar o céu no pássaro de plata y me chegar furacão, dizendo obscenidades no meu ouvido e se abrindo inteira para minhas retinas atrevidas de ojos que tudo viram e que mais um pouco não fará nenhum mal. abro as portas da casa, indico o labirinto que leva até a minha cama. e você, sem perguntas quaisquer que me façam dizer "que diabos foi isso que eu fiz?", toma banho com óleos dourados que tornam sua pele morena ainda mais macia&cheirosa, beija minha boca aberta e passando a língua na borda da taça de vinho, me diz em silêncio também que sou o que mais quer neste momento. e posso ouvir seu coração batendo dentro da blusa transparente e diáfana, como o manto com que queria cobrir tua nudez, que agora me incomoda, com tanta firmeza e maturidade, que nem sei mesmo como ensinar o que você diz não saber, mas faz, como se fosse gueixa, puta ou deusa. e tenho medo de beijar seus pés e de fazer noventa e oito fotografias do teu corpo sereno&calmo depois do gozo que ilumina teus olhos e eu me vejo dentro deles como se fosse o primeiro ou o último homem criado pelo deus crucificado que trazes no pescoço e no umbigo que beijo e bebo como cálice de cicuta dado ao prisioneiro condenado à morte, para que não sofra com o fogo, com as flechas, com a dor. e será dor que sentirei quando chegar o dia em que montarás nas asas do pegasus prateado que te levará à cidade do sol, dos rios cortando as ruas, dos mangues, frevos e maracatus? não sei. sei que queria ser outro, que pudesse escrever na tua pele um poema destes azulados, calientes e tão vero que te deixasse com vontade de voltar. mas eu sei, que na roda do calendário haverá um outro dia, em que tua voz me dirá "estoy ca" e tua presença plena de tudo encherá os pequenos vazios que nem sabia existir no meu canto. e eu certamente acenderei velas y incensos, te darei vinho e chocolate, darei risada do presente estranho que me trouxeres, e brincarei com teus cabelos longos, com tuas coxas grossas e beijarei tua boca com saudade, e te cobrirei com algum lençol que achar pela casa, para que não andes com alma tão nua. e não sei se será neste terceiro ou quarto encontro do teu corpo na minha cama, que me renderei a teu encanto, e te darei um solo de joplin, te direi um poema de Chacal, te enrolarei no sudário que guardo há séculos e dançarei só contigo sob a luz da lua e dos olhos dos gatos da rua, a dança das tribos antigas de onde viemos e pra onde voltaremos se eu um dia, decidir te amar.aí, chegará o dia de tua partida, e eu te pedirei. fica, quero ser feliz com você.

albanegromonte

do Capítulo 6

" ... atraindo-se e rejeitando-se, como é necessário quando não se quer que o amor termine em cromo ou em romance sem palavras"

Julio Cortazar em O Jogo da Amarelinha

Trost. Consolation

by Edvard Munch, 1894

Listening Creed





Não sei o que me corrói por dentro.
Que destrói aos poucos, a esperança e a atávica humana vontade de sobreviver.
Não sei que dor é esta que me acorda meio da noite
arrancando nacos da minha alma do meu coração emparedado- e gritos de mim, quando vejo olhos de fogo se agitando no meio da escura negra e violácea solidão do meu quarto.
Baile de morcegos
Máscaras de antigos rituais
Sangrentos altares
Punhais molhados agitando-se em insana coreografia e o Medo.
Instalando-se veloz e voraz pelo meu peito e mente, transmutando em mima sombra do que fui ou pensava ser.
Vermes lisos e vermelhos passeiam pela minha pele mas sentem sopro de vida e se recolhem no canto do quarto onde moram os donos dos pesadelos que me torturam noite e dia, implacáveis, honrados guerreiros do Mal
Como se eu houvesse criado o oitavo pecado capital.
E ainda o tivesse cometido.
Da minha janela vejo o Atlântico Sul que ladeia minha cidade
Um cachorro late como fosse um lobo virado para a Lua
Sirene de ambulância corta o silêncio
E os demônios se esvaem quando acendo a luz vaga do lume,
vagalume do meu teto
O Sol brilha agora no Japão e não tem pressa de chegar.
Nuvem baça se transforma em Anjo e fecho os olhos para não ver.
Não quero anjo a me proteger de mim.
(se ao menos tivesse certeza que anjos também têm suas guardas próprias)
Dou as costas ao que se destinava a me libertar de mim.
Ponteiros do relógio marcham devagar- e nem toda a poesia deste mundo me resgata do Inferno.
Não.
Não sei o que me corrói por dentro.
Se o sal das lágrimas todas que derramei por ti
Se a saudade do teu cheiro que nem sei mais
Da tua voz que não ouço.
Não sei que me destrói lenta e dolorosamentede dentro pra fora
E que não se reflete no espelho do quarto
Nem nas retinas de quem ainda se atreve a me amar.
Sei que há demônios a meu redor
Afiando foices.
Arrastando correntes.
Cavando buracos.A
cendendo fogueiras.
Sei que no salto fino do meu sapato destruo orquídeas recém-nascidas
nas frestas do asfalto
por onde passo sem saber pra onde, porque, por quem, para que?
Sei que trago a palavra de dor perdida num bilhete guardado na bolsa,
Palavra queVai magoar,
Vai ferir quem tentou
Mas sei também que a liberdade desta dor que me corrói e destrói
só terá fim com meu fim.
E que nem a orquídea despedaçada no asfalto quente pressinto o que já sabia.
Morri.
Ninguém percebeu.
Esqueceram de me enterrar.
E o vento desfolha as folhas da minha alma
E espalha pelas ruas da cidade o que de mim restar
Nas palavras que escrevi um dia.
No amor que te dei.
Na filha que não fiz.
Na contínua lágrima que rolava na minha face
Quando eu pensava
Que podia sonhar

albanegromonte

To Angelina

ph Eduardo Barrox
Raio de luz
Quebrando a bruma
lume cone de aeroplano
Avalon, deusa-Mãe:
Fogueiras tântricas serpenteando nossos corpos nus
vestidas nas fantasias delas- Elas
-todas em nosso espelho Matrix Revolutions
Blow Up- Click!
Eu era Ursula no filme de James Bond
- my name is Bond!

Angelina tu, Jolie Tomb Raider
no céu sem estrelas dos anjos alemães que saltavam de trapézios inacabados
no filme de Win
- I won- This war

Nenhuma meiga Meg.
Olhar fantasma desespero
e espero perguntando ao pó que nem Allen.
Dust. Ask The
Tróia, Briseida meu calcanhar
o teu perfurado pela flecha harpia olhos de.
Mulher-Gavião, Mulher-Gato, Stormy Tempestade de areia
e Névoa...
XY
XX
Gattaca. 1984. Blade Runner. Torre Negra de Stephen King.
Morgana, Guinevere, Eva, Lilith, Gioconda, Madonna, Marilyn, Garbo
eu&ela
Nina, menina na madrugada sem fim
infinda em minha alma
Espírito dela.
Minha Santa.
Desmancho em cores da minha orgulhosa bandeira
-um laço de fita pra te enfeitar-

albanegromonte