outubro 17, 2008

Da Série Pequenos Colapsos (III)


Que tipo de amor, vai embora sem deixar marcas?Que tipo de amor deixa você prosseguir tranquilamente sem sentir pontada qualquer de dor?Onde existiu amor, sempre sobra depois a dor.Felizmente, para mim, onde existiu dor, hoje se esbalda o amor...
Mas como sou poeta, posso sempre fingir, onde não mais encontro dor, que há. Pois é desta cor que se faz a Poesia.
Vermelha.


E quando minha alma se inclina, tanto que
tropeça nas dormentes das linhas que o Destino riscou nas minhas mãos,
volteio correntes de flores que deposito no altar do Tempo.
Dragão tatuado no meu pescoço pisca centelhas de fogo celestial,
e dobro os joelhos diante do espelho que reflete a cruz que dorme no meu
umbigo


(imploro ao vento: me leva daqui)


Então através da cortina do sentimento que corre feito trem nos
sulcos da minha face, observo o quarto vermelho sangue
logo ali no peito cicatrizado, onde
acontecimentos tardios,
detém-se nas paredes e átrios
remoendo e colhendo flores de dores, de desenganos e de saudades,
rasgando feridas
desfolhadas e inacabadas
dentro deste quarto vermelho,
para onde o vento Mistral que soprou vida em mim,
leva na sua dança de mistérios,
as evidências da morte que ali se fez há tanto.

(contemplo os campos repletos: gosto daqui)


albanegromonte

2 comentários:

Crow disse...

O começo me lembrou boa parte do meu passado.
Pior que onde existiu dor que foi preenchida com amor agora também divide o espaço com mais dor...

Lady Cronopio disse...

Hum...
Mas ainda que doa, sempre vale a pena.
(este é o lugar comum mais verdadeiro que existe, Mr Crow, acredite)
Grande beijo