dezembro 04, 2006

Da Gaveta

chuva que cai na tua janela escancarada&longe, molha meus lençóis e meus olhos tontos de te olhar através de outros que nem sabia. vento que oscila entre as nuvens esparsas no céu da minha cidade cuida de apagar a chama da vela amarela pousada no teu sorriso que senti hoje, um tanto mais triste do que eu gostaria. e um medo de tudo me tomou de súbito, trazendo à tona antigos fantasmas que arrastavam correntes bem longe daqui. e meu coração bolha de sabão, beijos formatados&escancarados em arte que nem é minha e que talvez por isso, passaram adiante da tua atenção, bilhete no travesseiro que nem leste, tamanha a pressa de acordar&viver, tomaram de assalto minha certeza indevida. será que é mesmo isso que penso que tuas palavras dizem quando atravessam as milhas que separam nossas ilhas? e no tapete da sala, derramo uma tola&clara lágrima de saudade do tempo em que teus olhos cor de tudo me viam em sonho&imaginar de curiosidade. e a pequena lágrima, solta no ar, hesita entre colar-se a esta lembrança torturante do teu beijo na minha boca ou largar-se inteira pelas paredes da minha casa. e desejei que hoje fosse ontem, que sinos&tambores não mais tocassem tão forte em mim, quando é de tua voz que lembro ao acordar e ao dormir. e quis tanto, que um arco&flecha disparasse em meu coração bilhete de suicida e em chamas fizesse de novo o escuro profundo, tranquilo, desesperador, mas conhecido inferno se refizesse em mim, e que eu esquecesse enfim, que um dia minhas mãos encontraram as tuas por baixo de uma mesa de bar, e que meus olhos se perderam tão desavisadamente no brilho dos teus, que sem promessa ou pedido se deixaram ficar por não saber nem ter pra onde ir, perdidos, coitados em tamanha intensidade. e orei ao Deus que não conheces, que me livrasse de um novo engano, pois este tolo e tonto coração não tem mais jeito de se refazer por tantos pedaços que se fez, ao se arrebentar em tuas escarpas inatingíveis, como se fosse sua última chance de ser diferente do que sempre se soube: um coração que não bate. só apanha. e como se fossem tentáculos de um pré-histórico animal que nunca vi, minhas lágrimas se multiplicaram em mil, se fixando em minhas retinas que andavam felizes com os beijos todos vistos em duas cores e em tamanhos diferentes. barquinho de papel se fez no meio da enxurrada, e navegou sem destino ou bússola pelo meu sentir dolorido e se foi no rastro de uma estrela cadente, direto pro Atlântico Sul que se mostrou através da minha janela escancarada que não esperava a chuva, mas teu afagofimdenoite e um dizer qualquer que nem te contei, chegasse. um sax se fez ouvir na madrugada inerte, e me vi contando tantas estrelas quantos dedos tive nas mãos e quase sorri de lembrar que tu só tens uma estrela neste céu todo aí em frente dos teus olhos. mas eu, ainda que triste, tenho a Lua que um dia me mandaste. e todas essas estrelas. espelho do meu quarto refletiu imagem última de ti, e senti falta de ter uma foto tua em papel, pra olhar agora. mas minha memória cuidou de trazer quadro a quadro, o teu sorriso enviesado, teu olhar& voz decantados em prosa&verso que nunca importaram. e abriu-se em minha alma cansada uma fresta qualquer de luz, então desdizendo tudo que leste antes, querendo apenas que amanheça logo e eu possa de novo dizer que te quero muito, ainda que doa, que eu tenha medos e não saiba mais em que cidade devo morar.

albanegromonte

Em 2005. Seria Hoje?


sinceramente, se você não mente, abre o jogo, homem, e diz que eu sou a mulher da tua vida. deixa que teus olhos percam o medo de olhar nos meus e vem comigo neste caminho que se interroga pra nós dois, assim como era desde o príncipio quando Adão&Eva não sabiam o que iria acontecer depois de mordida a maçã. pois então acontece comigo&comvocê, aqui neste mundo tão pequeno agora que existem as linhas aéreas. e pode até faltar a grana pra ir pichar o muro branco que tem em frente a tua casa, mas saiba meu bem, não falta tesão. e é este tesão, este desejo visceral que por hora se encontra adormecido que nem dragão a espera de São Jorge, que me impulsiona a escrever estes versos assimétricos e meio que malditos na sua concretude e falta de rimas que é como se deve fazer um legítimo poemadeamor. mas... o que seria do mundo sem as galáxias do Haroldo, sem o non-sense do Arnaldo Antunes que diz letra&música pra minha vozveludo cantar bem no meio do labirinto anatômico que sei pelas aulas de anatomia que existe dentro seu ouvido esquerdo, pois do direito cuida a minha língua absolutamente molhada pela chuva que cai sobre a minha cidade que quase não sai do sol. e então meu bem? arrisca ou não este querer bendito que poderá nos salvar da inanição de amor que cerca todo intelecto, toda falta de orgasmo e toda solidão que acompanha os poetas deste tempo de agora? quer me acompanhar? então comece a reconhecer o absoluto poder do meu olhar impreciso sobre o teu olhar escondido por trás do filtro noir que cerca tua visão real. então vem, pega um avião, que vou te esperar no terminal de uma companhia qualquer, vestida de branco, com uma inverossímel taça de vinho tinto numa das mãos e todo o amor deste mundo na outra, só pra te carinhar e te fazer feliz de uma vez por todas, que o tempo, meu caro, é mesmo imprevisível e pode nos cobrar a conta dos cigarros&cachaças&noitesinsones antes que a gente se dê conta e perceba que o fim já chegou. e before que isso aconteça, eu quero beijar a tua boca e saber o sabor do teu abraço contra o meu corpo pequeno e doce diante desta grandeza que é teu existir.

albanegromonte

Carícia

ph Eduardo Barrox
... não queira ser meu amor.
eu não quero ser o seu amor.
pretendo, em meu sonho turvo, ser teu leste, oeste qualquer direção
... não pense em me socorrer, quando dos atropelos da vida.
quero você, assim, longe do que é escuro, do que é dor.
chegue pra mim
sem hora certa sem promessa vã,
sem espada gloriosa que me salvará do terrível dragão.
seja o que sempre desejei.
meu sul, meu oeste
meu porto peito seguro onde ancorar minha cabeça de menina que sou bem no fundo
seja meu ouvir. meu falar
e me ouça cantar
que o tempo seja bom pra nós dois e nos torne juntos
antes que o pó se junte na cortina
e
que sempre eu seja o seu quase querer pra sempre
e
que você seja sempre, meu maior bem-querer vivido
e que quando este mesmo deus da hora de agora
nos abandonar,
seja dia claro de sol suave
e que possamos dizer que sim,
foi muito bom nos encontrarmos neste instante de hoje,
ou amanhã, quem saberá?
Mas que será!

albanegromonte

dezembro 03, 2006

De Um Dia...


que podia ser hoje...

Lembrei agora, enquanto a nuvem invisível do meu novo perfume envolvia meu corpo metido num doll de seda amarela, do nosso primeiro olhar... meus cabelos ao vento de uma cidade qualquer dos Estados Unidos e o teu, como sempre tão feroz, por trás das lentes abusivas de um retratista atormentado pelo fantasma de Besson. Click! As palavras foram pra lá e pra cá nas nossas bocas, feito chocolate em boca de criança. E eu quase te amei naquele instante. Mas estava apressada, aprendia os detalhes tortuosos de escrever sem caneta, sem papel. E quis te escrever um poema que falasse do quanto queria te ter ao meu alcance. E o fiz. Não sei se ainda o tens, pois não disse que te pertenciam aquelas palavras todas tão caóticas. Mas continuei a escrever tudo para teu olhar, e um dia, reconheci meu pulso, num dos teus insanos textos. Chorei. Foi mais fácil então, dizer de um daqueles meus escritos... foi pra ti. Pontapé de campeão. Meu gol, foi te ver sem jeito, feito menino que és. E aí, todos os fios de seda dos teus cabelos, se desvencilharam da maravilha que é o duvidar e reconheceram meu sentimento. Sei que te quero agora, não sei se amanhã permanecerei nesta espera de te tocar com as mãos que por hora te imaginam nas noites solitárias que antecedem os dias tenebrosos. O que sei, é que estarei sempre a te buscar nestes espaços de qualquer link, pra te dizer assim meio sem jeito, que preciso do teu sorriso aqui no meu rosto e do teu beijo bem na minha boca que sorri de quase tudo que dizes... Preciso te dizer que pichei teu muro com minha letra que nunca viste e assinei com meu codinome. Beija-flor. Tenho que dizer, que era eu, a mulher nua que tocava tua campainha enquanto dormias profundamente em outros braços... Então, o que esperas para tomar o primeiro trem que vem pra minha cidade? Vou te aguardar, com minha bicicleta carregada de margaridas e te levar sem mala, pro meu abrigo secreto, onde nada, nem ninguém nos encontre, até que se sacie esta incrível vontade de te ter.

albanegromonte

Um Dizer


apenas uma palavra para definir este bem-querer tão louco.
eu preciso dessa palavra, para definir o pulo que dá meu coração dentro da camiseta, quando te ouve ou lê, tanto faz, já que pra te ver vai levar um tempo.
só sei que é verdade que eu estava nua quando teu toque de telefone bateu na minha pele ainda molhada, e mais ainda ficou quando meus ouvidos captaram esta mansidão da tua voz.
ai, que desaguou um mar em mim, e minha alma cantarolou um tango, que é a dança mais parecida com fazer amor que conheço.
então derretida por este sentimento que nem ouso dar nome, fechei os olhos e vesti a velha camiseta da Minnie, enquanto te ouvia falar dos bichos&coisas da tua vida.
como quis te abraçar, beija-flor.
deitei na cama e nem te contei do calor que me subia pelas pernas e seguia corpo a fora contigo por dentro.
aí, me imaginei bem do teu lado, segurando tua mão, te olhando bem nos olhos e te dizendo um a um os poemas&prosas que fiz pensando em ti.
desejei ser teu último beijo.
teu bicho querido.
eu quis, hoje, sorrir sempre contigo e ser teu amor.
...
mas não tive coragem de dizer.

Place


de ti eu sei quando sonho
olhos abertos pro céu
enquanto, cílios fechados, busco a mesma Lua que te ilumina o quintal
onde gnomos brincam com os gatos
e girafas correm com pinguins

de ti eu sou quando amanhece
e em minha cama solta nas nuvens
observo o mesmo Sol que te acompanha no dia iluminado
enquanto conto as horas
e tu me falas de quando

em ti não sei o que se vai
quero apenas que venhas
dia ou noite
- não sei, mas se
hoje for dezenove
nossos signos se alinharão
e festa haverá na solitude da via-láctea
e o carteiro de Pasárgada
repousará feliz por saber
que sua encomenda chegou ao centro do mundo
onde começa tudo
onde findamos nós.

albanegromonte