para Maat, que me estimula os achares e de quem sempre espero a resposta.
Venho desta forma solicitar ao leitor
uma cabeça de martelo
para que por caridade
me sejam arrancados das costas
todos os pregos que o tempo aí me pregou
Pregos para pendurar retratos
talvez de coisas tristes
talvez de coisas alegres
Peço-lhe que o faça com extrema delicadeza
de modo a que um dia
me seja possível coçar as costas
sem estar preocupado
com crostas ou cicatrizes
Venho pois caro leitor
pedir-lhe depurada mestria
ao arrancar-me todos os pregos
que a vida me pregou nas costas
Pregos veja-se bem
que têm servido tão-somente
para pendurar quadros
talvez de naturezas mortas
talvez de paisagens sem título
Não leve a mal o pedido
trata-se de caridade devida
ou não fosse também o caro leitor
um desses pregos
que o destino me pregou nas costas
com irrepreensível precisão
Antoni Tàpies
10 comentários:
A este leitor...podes pedir isso e muito mais!
Nada mais justo... coisa linda essa poesia... Abraço
Ao desprendimento o despregar-se dos pregos pregados pelo tempo.
Cadinho RoCo
M.
Na verdade é tanto que já recebo de vocês...
Beijos
Ivan,
Diga se não foi mesmo uma coisa linda achar esta poesia assim jogada ao acaso?
Fico feliz que tenha gostado.
Cadinho RoCo.
Seu dizer soa que nem um verso.
Seu blog é belíssimo!
Agora me conte: como veio ter aqui?
Muito me honrou sua visita.
"Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter."
A imagem dos pregos e de uma cabeça para arrancá-los, me deixou paralisado entre a ação e a inação. Procurei meu amigo de todas as horas Manoel de Barros, ele me poetisou a solução, que serve de epígrafe salvadora.
Poetas e poesias todas puras e que venham os pregos.
Beijos e alegria e paz.
Então? Saudades de ti.
Está tudo bem contigo?
Sem me querer meter...
Djabal, é por essas e outras...
Beijos e toda aquela coisa.
M, querida!
Saudades também.
Estive fora, numa pequena viagem.
Já de volta.
Daqui a pouco, posts especiais.
Beijos
ps: e pode se meter, ora...
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