dezembro 14, 2006

Canção



O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão, sob o fardo
da insatisfação
o peso o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos nos toca
o corpo, em pensamentos
constrói um milagre,
na imaginação aflige-se
até tornar-se humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados e assim temos que descansar nos braços do amor
finalmente temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor, nenhum sono
sem sonhos de amor -
quer esteja eu louco ou frio, obcecado por anjos
ou por máquinas, o último desejo
é o amor - não pode ser amargo
não pode ser negado não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se sem nada de volta
assim como o pensamento é dado
na solidão em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos na escuridão,
a mão se move para o centro
da carne, a pele treme
na felicidade e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que eu queria,
eu sempre quis, eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci.

Allen Ginsberg

2 comentários:

Anônimo disse...

Opa, obrigado! Teu espaço aqui é bem bacana. Pelo nome do blog, percebo que é Cortázar três vezes ao dia- no mínimo-, hehe. O Carino deve cortar um dobrado com aquela felina pensadora, hahaha. Valeu!

Lady Cronopio disse...

Obrigada, eu digo, Adriano.
Andei distante, mas agora tento voltar com Cortazar sempre na veia...
rs...