outubro 28, 2010

Frenesi




eu trago a noite no peito
e nos pés arrasto uma fenda no Tempo
argumento com a Lua, a desnecessidade deste brilho
- há um oco de doçura em minha boca, que não sei de onde vem
e cuspo fora para sentir o amargo do ébano mastigado pelos dentes que doem.
incerto atalho me surge em frente
"minha-mãe-disse-que-eu-fosse-por-aqui!"
arranco um cogumelo esverdeado na margem da estrada e sigo por onde minha mãe não mandaria
vento rasante espalha nuvens cor de chumbo e vela derretida sobre minha cabeça
é hora de chorar.
mas não.
arrasto o braço que se liga ao coração e desnudo a pele para não sentir mais nada.
engulo flores secas, dardos envenenados e maldições ciganas
não olho para trás.
atávico terror me arde nos olhos e um desasossego me enche os ouvidos
de nunca mais
solenes pássaros desfilam a meu lado
e minha gargalhada incolor se distrai nas brumas da minha loucura.


albanegromonte

8 comentários:

Joelma B. disse...

Tive a ideia de clicar no "Próximo blog" a fim de encontrar um blog interessante para convidar o proprietário a conhecer meu espaço de poesia Luz de Ana...

Estou tendo sorte... Seu canto é iluminado!

Aguardo sua visita!

Abraço!

Lady Cronopio disse...

Visita feita!
Adorei seu canto de luz, Ana.
Gratíssima por vir até aqui e me sentindo com sorte por estar no "próximo blog".
Beijos

M. disse...

Seguir o seu próprio caminho, por conta e risco...A única forma de crescer!

Bonito poema!

Lady Cronopio disse...

M., sua presença já é uma expectativa minha.
Obrigada!
Beijos

M. disse...

Estou presente onde me merecem! (sem sombra de pedantismo!)

Unknown disse...

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

Um poeta antes de ti o disse de outra forma, com outro som.
Mas o seu, saiba, é inconfundível.
Ousei deixar aqui a conclusão dele, quem sabe seja a sua também. Somos nossa memória, mesmo com o ébano amargo mastigado.
E, por fim, anote: beijos e com toda aquela coisa & violão.

Lady Cronopio disse...

Anotado, Djabal.
Este recanto não vive mais sem você. Anote.
Dê-me uma ideia e o violão aparecerá no seu mural.
Aquela coisa toda e beijos.

Anônimo disse...

íncrivel
como aquela coisa toda