março 05, 2008

Além Das Estações







então te digo assim de repente, à queima-roupa, ferindo o meu peito, que vou partir de ti.



enquanto me resta agonia alguma de viver



enquanto as magnólias de veludo não se transmutam em cravos de mortos.



e te digo ainda


que minha ausência nas horas inválidas



não serão mais que estranhamentos de Poeta



de joelhos diante do Tempo que passa.


passei um Tempo


passarás também, Tempo que leva um Centauro pra cruzar o jardim, e Tempo todo


necessário que seja



pra apagar o que nunca chegou a ser escrito na lousa negra do meu céu



por enquanto sem estrelas



mas com espaçonaves várias a partir e chegar



em tormentosas viagens para lugar nenhum



nenhum lugar


onde estaria você


em cores e ao vivo



feito a fotografia que trago de ti dentro de um livro do Julio



que traz um post it amarelo



onde diz



- um beijo-



e coisas mais,



que melhor não lembrar



pra não estalar os cristais frágeis da minha fatigada alma



então olho para dentro do espelho



quebrado por dentro e mal refletindo o leve sorriso que me



rasga as entranhas viciadas na tua voz e no fogo da tua existência



- e o riso é o avesso da lágrima- disse o poeta lusitano



e me vejo dissolvida em lágrimas de saudade tanta



do pouco tão pouco que tive de ti


em mim, se é que.



e busco na melodia de um blues o que encontraria num tango



dançado na parede



a esperança de não seguir



caminho errado


estrada facilitada pela tristeza



pelo grito enviesado da dor na mente


dos poetas ensandecidos



ditos assim pela poeta do Sul



e sinto piedade das flores de Outubro


que brotaram prematuras



e morreram sem florir ao certo



qual fruta colhida antes da estação



cheia de amargor



penso que nos colhemos antes da hora



não era o minuto inventado em meu relógio ansioso



nem a tua falta de marcadores do Tempo



era o átimo



da espera



da maturidade


do fruto caindo da árvore


ou da flor nascida antes de ser arrebatada pelo deus sol, ainda molhada em orvalho



- perfeição de hora natureza.




e somos flores de Dezembro, em Junho ou Setembro



sem estações



na solidão



dos que beberam


além da conta



enquanto um jazz se mesclava na noite



que se via passar na janela fechada do apartamento ao lado



onde tudo era visto com os olhos virados para dentro


como carta de tarot



- que antecipou tudo que acontecerá



comigo e com você ali do outro lado da luarua



quando isto tudo acabar



e só à memória das peles



será um dia permitido relembrar





albanegromonte

3 comentários:

Daisy Carvalho disse...

Quanta inspiração. Meu Deus, é lindo mesmo!
Passei para matar saudades e deixar um beeeeijo :)

Cansei de ser abduzida disse...

Nossa adorei
beijos.. te cuida bem!

Alexandre Kovacs disse...

Linda e caudalosa reflexão!