dezembro 17, 2006

Dark Side


Um lamento numa madrugada qualquer

... eis que trava o fel no meu coração, o silêncio tumular que sopra agonias várias em meus ouvidos. e eu, que já não sabia o que fazer com este sentir estranho, acumulado no peito, deságuo através dos meus olhos envidraçados, as lembranças tolas que guardo nas retinas fotográficas que trago no meio do rosto-o tal terceiro olho de que tanto se fala, o lendário sexto sentido feminino, a marca das bruxas queimadas naquela inquisição abençoada pela santa igreja que hoje se ajoelha diante das tormentas do homem. eis que minha alma infantil, contadora de histórias e canções de amor despedaçado, infiltra-se de bolor e cansaço, coitada, vergando-se ao sabor da tua tormentosa presença em minha mente, do que nunca foi vivido e que, nem se sabia ao certo se seria, num certo rodar de planetas, quando a lua mudasse de estratégia e brilhasse única no céu da tua cidade. eis que levanto uma taça de vinho tinto e brindo ao nosso desamor. - na verdade, ao meu desamor- eis que as árvores entristecidas da avenida que passa ao lado da minha casa, murmuram afagos que não sinto, tão plena desta falta de não sei-o-quê-ou-se... eis que mais uma vez, vence o dragão da solidão, e me vejo rasgando tua foto imaginária que carrego no bolso da velha calça jeans. eis que a madrugada se vai antes que meu sono chegue e na TV passa um filme que fala de uma dor que nunca sentirei, graças ao vazio desértico das minhas entranhas, agora ainda mais áridas, depois que te arranco ávida de não mais sentir dor da serena memória dos planos que tive de um dia poder te amar.

albanegromonte

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