outubro 12, 2006

Da Série Colibri



inspirado em um poema em prosa do querido Fabrício Carpinejar.

você tem medo de mim. medo de você. medo de se perder quando encontrar meus olhos que sempre o buscaram em viagens interplanetárias regadas a vinho tinto barato que se compra em loja de conveniência. você tem medo de me conhecer, de me sentir o perfume de rosas e petúnias esquecidas num vaso de cristal rachado. você tem medo de não resistir a essa pressão de cheiros que invadirá seu centro do olfato, antes que se perceba que um vidro de perfume se abriu inteiro na bolsa da mulher destrambelhada que desceu do avião. você tem medo de sentir minha mão na sua, remetendo as lembranças a um tempo em que era legal ficar de mãos dadas com uma garota. eu não sou uma garota e não é mais tempo em que era legal ficar assim feito namorados... e você tem medo de reconhecer na minha risada desavisada, um desejo incontido de me calar com um beijo. e desse beijo você também tem medo, pois se minha boca couber direinho na sua e nossas línguas não se desencontrarem na dança dos dentes, eu estarei fincando mais uma estaca em seu peito de vampiro. é, você tem medo de minhas pernas grossas e morenas se enroscando nas suas numa noite qualquer enquanto a chuva canta na sua janela e o gato posto pra fora de casa miar um blues lamentando a futura solidão. você tem medo que suas pernas encontrem lugar no meio das minhas e que sejamos um par durante a noite passada tão rápido, que o sol vai ser um chato ao nos acordar no meio da manhã com solicitações e desenhos geométricos que se farão ver sobre seu lençol branco e amarelo, com tintas e marcas do que fizemos antes. e que medo você tem de me achar mais bonita assim me acordando dengosa e preguiçosa, abrindo os olhos negros bem devagar, espalhando cílios pelo seu rosto e ronronando bom dia, beija-flor... você tem medo de ouvir meu nome nas conversas com amigos, de rezar pra eu ligar todo dia, pra fazer prosa e poesia com você na cabeça o tempo todo e todo o tempo que me for reservado nesta vida, já que, como expliquei outro dia, eu paro em mim, e quando um dia, a indesejada das gentes me chegar, embora não encontre nada pronto, vai me levar só com uma escova de dentes e uma caixinha de rivotril pra acalmar na viagem, nada de mim restará nesse mundo sem porteira, pois não fiz um filho com você, ou sem você, não escrevi um livro nem plantei uma árvore. assim é que você ficará órfão e você tem medo de ser órfão de um amor que você não pediu pra acontecer. você tem medo de sua reação quando meus seios cheios de sinais, sinalizarem sua chegada arrepiando a pele ao redor de tudo que você imaginou existir mas que não teve coragem de acreditar. você tem medo da minha pele queimada de sol, do meu sabor de terra, do meu gostar de telefonemas pela madrugada, como se os dias parassem pois eu estou conversando. você tem medo da saudade que nem sentiu quando eu disser que chegou a hora de partir e nem sei quando a gente vai se ver depois. você tem medo de ter que reconhecer o seu medo e me encarar de peito aberto, coração com vaga na garagem e todos os requisitos que incluem contar pra todo mundo, de se sentir tomado por um desejo por uma única mulher que não poderá ser saciado por corpos e peles mais jovens ou seja lá o que for de beleza que se passa através destas suas lentes magníficas e aliciadoras de sentimentos desvairados, que são seus olhos&retinas. você tem medo, baby, da minha entrega, da minha transparência, da minha força de expressão que colide com sua extrema timidez. você tem medo de sentir ciúmes do meu passado recente e do futuro que possa me surgir. mas com a mão na bíblia eu prometo arrancar esse medo das suas mãos adoradas e depositá-lo num canto qualquer da casa (você vai precisar dele pra atravessar a rua e pra dirigir de madrugada), e mostrar pra você um pouco do meu desvelo, do meu carinho, do meu tesão e do meu querer você só pra ser feliz um pouco, já que nunca tenho nada de muito nesta vida. não tenha medo, que prometo partir na melhor hora, enquanto ainda for gosto de novo, de assombro e de desejo. e quando eu me for, ficará a mais linda lembrança no seu coração tonto ainda, meu riso, minha cor, a palma da minha mão acolhida na sua, minha pele resvalando cores na sua, meu cheiro no travesseiro, na velha camiseta e no cd de cassia eller que vou esquecer de propósito no seu toca discos... don't worry baby, um dia a gente se encontra de novo e acerta o rumo dessa história.

albanegromonte

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