agosto 27, 2006

Nem Só De Números Vive Esse Coração






Recebi esta poesia do meu amigo J., que é engenheiro, mas não é uma máquina de fazer contas. Este meu amigo teve o prazer de ver o Carlos em vida, a recitar poesia pelos becos de Ouro Preto.
Namasté, J., e aquela coisa toda, sempre.





Acordar Viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento
qualquer acontecimento
que lembra a terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.

Carlos Drumond de Andrade

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