agosto 26, 2006

Grito Surdo


salve-me.
estou na beira do abismo,
a um passo de criança
pra cair no mais profundo vão da minha alma perdida.
salve-me,
venha em meu socorro
pois nada mais respira neste espaço
além de mim
e das baratas sobreviventes ao Armagedon da dedetização do 401.
não há ninguém pra quem possa telefonar
não há um gato,
um peixinho de aquário
ou sequer uma planta
pra quem eu possa contar
como cheguei à beira deste precipício
no quinto andar de um prédio qualquer
na avenida colorida por
carros, motos e faróis
que piscam que nem meus olhos
quando ardem pra começar a chorar
e eu choro agora.
salve-me
passa um filme triste na TV,
que ironicamente se chama Shine
mas nada brilha por aqui está escuro
e não enxergo pois à tarde,
enquanto sonhava com você
dormi por cima dos óculos
e eles agora estão trincados que nem meus dentes
firmados sobre os lábios
contendo o grito
que atrapalharia os vizinhos que assistem o Jornal Nacional.
salve-me
resta um fiapo de esperança no meu coração
que este telefone toque,
e seja você a me dizer
não ande.
não salte.
eu vou aí
pra te tomar nos meus braços
e te fazer dormir como os loucos.
salve-me...

albanegromonte

Nenhum comentário: