agosto 27, 2006

Da Série Beija-Flor

pois é de esperança que a gente vive...

é urgente que te diga.
meu coração já é teu.
antes mesmo que o pedisses ou desejasses.
antes mesmo que as galáxias sem fim te enviassem mensagens codificadas em morangos doces no fim da temporada.
é preciso que te diga.
e é urgente.
que me pula no lado esquerdo do peito, uma alegria sem fim, quando tua risada se solta via nuclear e me atinge em cheio no centro da felicidade que eu nem mais sabia existir além do credo que rezava de joelhos pra não morrer desamando.
e é preciso, é mesmo necessário que te diga, o quanto de milhares de beijos vou depositar na tua boca, antes que digas:
oi, prazer em te conhecer.
quanta poesia derramarei em teus ouvidos antes que reconheças minha voz no telefone, ainda que ligue de um orelhão abandonado no metrô escuro e pegajoso que nem minhas mãos a te procurar conhecer, antes que o tempo que será tão curto se passe e eu nem possa dizer, que tu, sim, és o meu beija-flor escondido atrás das colunas de mármore que falsamente me me mostravam uma face que não era a do Amor, mas que me ensinou a reconhecer a dor de te dizer até já, meu bem, quando o monstro alado criado pelo homem me levar à tua rua, à tua casa, à tua pele, a teu cheiro, à tua voz amada e sonhada inúmeras e incontáveis vezes em que me procurei pensando em ti de olhos fechados... ou que este mesmo monstro se vire pro meu lado e te traga à minha rua, à minha casa, à minha pele, e o meu cheiro, à minha voz por ti inventada, à minha boca por ti já beijada em sabores de outras que nem notavas...
e sei, que sei...
e tenho certeza que há um gosto de menta no teu beijo que vai encontrar meu lábio pintado, desenhado, poetizado num dizer único de paixão antiga, ainda que cega, ainda que surda por alguns dias, mas que sempre houve dentro do meu peito, dentro do meu olhar envidraçado, vidrado no teu, relato fotográfico de tantas vidas atrás...
mas sei que haverá um blues tocando, uma gaita serena, um miado de gato, e um suspiro demorado quando me olhares na alma e me reconheceres como aquela que procuraste há tanto que até esquecia que a temporada de morangos já começara, terminara e a festa agora é que vai acontecer.
eu sei.
e é urgente que saibas, pois se teu anjo da guarda estiver dormindo quando chegar ao alcance do teu olhar, nunca mais te verás livre de mim- beija flor de amor que nem se sabe o tamanho ou a cor, mas que já estava escrito nas nuvens de algodão-golfinhos-ornitorrincos e otorrinolaringologistas quaisquer que inventares pra me confundir.
eu estarei aí, e se me for permitido pelos deuses todos que clamamos nas noites vazias, fincarei minha bandeira no teu coração, e de lá só saio quando morrer.

albanegromonte

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