agosto 20, 2006

Chile, 1973

ph Evandro Teixeira
parem a guerra.
silenciem os tambores dos revólveres.
retirem as fardas das avenidas.
baixem a guarda dos tanques.
deixem as ruas abertas.
- os relógios pararam, não vêem?
os sinos estão mudos, agora.
o sol se escondeu atrás da nuvem plúmbea.
as crianças não sorriem.
as mulheres não cozem nem cozinham.
os homens tiraram os seus chapéus
- não perceberam?
o Poeta morreu.
sua alma pede espaço pra subir na escadaria de versos que esculpiu por toda a vida.
e deixem que o cachorro siga o cortejo bem na frente.
um cachorro sofre a perda do seu dono.
um País chora a perda do seu arauto.
uma mulher pranteia seu homem amado.
um carteiro vai virar escritor.
o mar ficará mais cheio, agora que ele não colhe mais conchas e coisas.
uma criança não conhecerá seu pai.
mas o mundo inteiro reconhece a morte do Poeta.
parem a guerra.
respeitem a dor da Poesia,
agora inconsolável.

albanegromonte

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