agosto 30, 2011

Gengibre

"Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós". 
Clarice Lispector


e então eu pinço de um escrito, o verso que queria te fazer.

ponto.
e não mais, além deste abismo que nos acena, 
e nós, embalados pelas tantas dores já vividas e por todas as dificuldades com que a Vida já nos presenteou, atrasamos o passo, paramos bem na ponta, quando um impulso de vento qualquer poderia nos jogar além de lá...
e o que haveria depois?
que mutilação de sentir seria mais clara que todo este momento sagrado
que nos une a cada manhã que se abre com um bilhete trazido no bico de um pássaro louco, ou pelas pétalas da flor colhida no desenho da blusa que visto?
e todos esses instantes roubados de outros,
crescem e se tornam tempestades de saudades inexplicáveis e tudo se amplifica:
- a voz, a canção, o diário de um dia distante, a foto da criança desconhecida, um pedaço de caminho percorrido, o fragmento do livro não lido por puro ciúme de si mesmo...
e tanto mais se transforma em festa para meus olhos que só enxergam se vestidos pelas lentes (isto eu sei, que te preocupa)
mas vejo. vejo a ti, a tua sombra e teu desejo de estar aqui.
como eu sinto em mim, o crescer enlouquecido que nem ouso nomear
de tomar um trem, um avião, ou uma jangada despida de mapa,
só para olhar em teus olhos, fechá-los para te ver melhor, e te ouvir todas as histórias que existem, e que eu nem sonhava
e sim, sou Menina
perante a toda esta palavra que entre aturdida e emocionada, leio e abro o coração diante.
sei que haverá o dia.
amassado dia,  que nem um poema de Blake, em que as configurações do Sr. V. não serão fortes o bastante para conter o riso que daremos, e o abraço que sonho em te dar.

Lady Cronopio

5 comentários:

Unknown disse...

A jaganda despida de mapa, me lembrou um trecho, e eu macaco sem pelo o associo, sem eira, nem beira, para descobrir, depois, os porquês.

"Venho de famílias portuguesas, não digo pobres, mas de condição modesta, gente honrada e trabalhadora que, pelejando através dos séculos no cabo da enxada ou atrás do balcão, nunca teve tempo para se fazer gentleman ou ladies (...). Os costumes de minha casa são um tanto rudes, e às vezes mesmo acontece que o garçom de luvas brancas não nos serve o chá das cinco com a devida pontualidade, o que nos produz um grande abatimento moral. Enfim, nos conformamos - mesmo porque não temos luvas, nem garçom, nem chá."

Dos Braga: o Rubem.
Musical, lírico, uma tempestade.
Beijos e aquela coisa toda.

Teresa Brum disse...

Amei!
Aliás sempre amo seus escritos e sua linda inspiração.
Parabéns!
Linda vida para você e para todos que você ama.
Umabraço,Maria Teresa

Teresa Brum disse...

Obrigada querida pelo passeio que fizestes em emu blog,foi um prazer recebê-la.
Fique sempre a vontade para voltar.
Um grande abraço e linda vida para você e que sua vida seja repleta sempre de muito e doce amor.

Clayton C. disse...

Muito mais muito bonito
e faz dar raiva de publicarem tanta porcaria e as suas palavras ñ estarem nas ruas no meio do que as pessoas respiram. Mas eu respiro, lindo mesmo.

Unknown disse...

O jogo de palavras é interessantíssimo! Muito bom!