O Canto dos Cronópios
Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que frequentemente se deixam atropelar por camiões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham nos bolsos e até a conta dos dias.
Quando um cronópio canta, as esperanças e os famas acorrem a ouvi-lo embora não compreendam muito seu arrebatamento e em geral se mostrem um tanto escandalizados. No meio da roda o cronópio suspende seus bracinhos como se segurasse o sol, como se o céu fosse uma bandeja e o sol a cabeça do Batista, de forma que a canção do cronópio é Salomé nua dançando para os famas e as esperanças que ali estão boquiabertos e perguntando-se se o senhor padre, se as conveniências. Mas como no fundo São bons (os famas são bons e as esperanças bobas) acabam aplaudindo o cronópio, que se recupera sobressaltado, olha em redor e começa também a aplaudir, coitadinho.
Julio Cortázar
2 comentários:
Depois me conta a sua opinião sobre "Meu Nome é Vermelho" de Pamuk. Gostei muito deste livro. A edição que você postou é portuguesa?
Olá, Alexandre!
Estou inebriada com a leitura do "Meu Nome É Vermelho", e a culpa é sua...(foi pela sua resenha que resolvi ler)
Quando terminar, escreverei para você, dizendo a minha impressão.
Quanto à edição, não sei se é portuguesa, "catei" na web.
Sempre um prazer você por aqui.
Gratíssima.
Beijos
Postar um comentário