outubro 30, 2007

Passos


ainda te direi mais deste grande amor.


te contarei dos dias que se diluiam em noites eternas e perigosas, onde eu escorregava minha sanidade, em paralepípedos de pesadelos, em febres mortais, em potes de água e sal que se chamavam então lágrimas de dor.


te direi do salto no escuro, da flor que murchava sem gota de orvalho sequer, do meu coração que só batia quando não podia mais ser outra coisa a manter-me viva.


te contarei da solidão, da vontade sombria, da voz que calava em minha mente aquilo tudo que sabe-se ser desumano, ser perigoso.


te direi da desesperança, da ausência de cores, do perfume que se esvaía no ar rarefeito, das crianças magras que me pediam abrigo numa alma que se transmutava em pedra, em cal, em mármore azulado.


era eu.


te contarei do arco-íris amarelo que te envolveu e do sorriso teu que ultrapassou a geleira dos pixels, chegando quente ao meu olhar seco e quase cego. eu também sorri, e de volta um calor de onde nem sei me trouxe paz por um interminável segundo que rodou meus relógios todos.


e então colinas do meu peito se abriram em clareiras e o sol apareceu por trás das nuvens que não mais carregavam chuva. devagar e sempre, teu eco de carinho se espalhou pela 232 e fomos num dia de dezembro que terminava em um ano que nem era assim tão bom, pelas calçadas do antigo bairro onde eu morava e não mais.


e veio o tempo de reconhecer em cada letra, cada verso, cada gesto, o poder deste sentimento que se agigantou em nós, que derivou em lavas incandescentes pelas nossas encostas, nossas costas.


e eu te pedi, me ama. e me amaste como nunca fora. e eu a ti, entreguei coração retraçado em linhas que só diziam de ti.


agora somos nós dois.


e esta festa toda que se chama Vida é nossa.


albanegromonte

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