setembro 17, 2007

Monólogo

espelho meu que mostra as marcas do tempo que eu pensava nunca chegar. relato amargo que denuncia a minha alma carregada de angústia pelo tempo perdido, pelo tempo todo que tive pra te arrancar do peito e não consegui. reina absoluta em meu corpo a vontade de te ver ainda uma vez, ainda que pra ferir, ainda que pra machucar. olhos embaçados de lágrimas, velejam na água toda que derramo nas páginas do livro inacabado. pássaro negro canta pra mim na janela. não abro a cortina. não sei se é noite ou dia. canto embalada na lembrança antiga como o anel de esmeralda que me deste no momento da partida. nuvens balançam a porta fechada e a felicidade eu busco nas esferas azuladas que me percorrem a garganta, zelando pela minha incoerência que é o que me mantém distante do abismo. onda do mar bate nas paredes do quarto fechado e rio do palhaço que aparece vestido de morte no meu espelho mentiroso. sorrio, e é rio nervoso que corre pelas minhas veias que se derrama em fios vermelhos pintando o mosaico branco da banheira desenhando um mapa desta vida minha que se esvai pelo nada que me deste, por tudo que te quis e te fiz. arrasto a dor pelas frestas do chão e te vejo chorando pelo espelho, que agora sim, me mostra como estou. sou jovem, sou bela e te tenho a meu lado. não chora, meu amor. sorria meu amor. acaba tudo em tão pouco tempo e eu perdida desde então... finjo que fecho os olhos para não te ver, mas te vejo através da íris que não se ampara na claridade das pálpebras nuas. o palhaço grita: vai! e tu te vais pelo espelho amarrotado. acho que vai feliz. minha alma se detém no ar e me olha livre. agora poderá ser canção, árvore ou ventania. minha alma não quer mais ser gente. minha alma quer viver e eu já morri há tanto que nem sei se isso que conto é daqui ou do outro lado que a gente repete até não querer mais se livrar da dor de ser infeliz nesta terra de tanta provação. que se repete tanto que até se esquece e repete, repete, repete...

albanegromonte

3 comentários:

Anônimo disse...

Mto bom o texto... fiz esse monologo no curso de teatro!!!

Anônimo disse...

Muito bom!!! Quem é o autor desse texto?

Lady Cronopio disse...

O texto é meu, "anônimo".
Fico contente que tenha gostado.