agosto 22, 2006

Ela

ph Eduardo Barrox
É sabido que ela virá de longe.
Da terra do Sol, ou das infinitas noites de frio.
Não se sabe pra onde ela se dirige,
quando toma o trem, o avião, o ônibus e o metrô
para finalmente chegar.

É sabido que trará nos olhos de âmbar
o vazio do quadro inacabado
abandonado pelo artista volúvel,
e nos lábios, o sabor dos beijos que nunca aconteceram.
No corpo sem cicatrizes ou arranhões de noites selvagens
terá apenas a tênue penugem dourada
que vai se refletir na morenice
que vem de dentro e explode para fora em
braços, coxas, barriga e seios.

Esta mulher que virá,
morre por amor a cada dia que amanhece,
E renasce nas noites em que sonha.
Ela sabe que nunca será amada
que carícias virgens não terão pele onde ancorar
Ela sabe que o tempo corre mais veloz
que todas as horas do seu desejo reprimido
em risos nervosos
e agulhas de tricô
que alinhavam a fina malha
dos sentimentos impunes

É sabido que todo amor que fustiga o peito atormentado dessa mulher que virá,
E ela virá, um dia se transformará em
urna de cinzas mornas
pousada num altar profano
de deuses que assim profetizaram,
quando ela, a que se sabia que chegaria,
fugiu do paraíso

albanegromonte 28 de janeiro, 2oo6

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