setembro 05, 2007

Verso Cabralino


O Artista Inconfessável


Fazer o que seja é inútil.

Não fazer nada é inútil.

Mas entre o fazer e não fazer

mais vale o inútil do fazer.

Mas não, fazer para esquecer

que é inútil: nunca o esquecer.

Mas fazer o inútil sabendo

que ele é inútil, e bem sabendo

que é inútil e que seu sentido

não será sequer pressentido,

fazer: porque ele é mais difícil

do que não fazer, e dificil

- mente se poderá dizer

com mais desdém, ou então dizer

mais direto ao leitor Ninguém

que o feito o foi para ninguém.


João Cabral de Melo Neto

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