julho 20, 2010

Para Maria Tereza


me conta uma história antes de dormir.
me abraça em concha,me guarda em teu peito e me faz um carinho demorado nos cabelos, até que os pensamentos ruins procurem outro abrigo.
desenha em giz cor-de-rosa, uma aventura de bailarina que se enamora de um facho de luz, que vive no fundo do mar, deitado numa concha, de onde fogem três a cada dia, pérolas lilases que ao chegarem à superfície se transformam em fadas e vão brincar em carrosseis guiados por unicórnios prateados que cantam fados e derramam gotas de cristal por onde passam...
diz pra mim, que esta bailarina tem olhos que nem os meus e dentes separados, que sorri e chora de tudo, que dança sem muito jeito, mas que canta tão bonito...
em giz amarelo-ouro, desenha a casa, a cama, a mesa e os copos que tem na casa da bailarina, e me esconde o nome dela, até que eu saiba pelo cheiro de flor, que ela é quem sussurra na janela, entre as cortinas de sonhos bons, que então vagam em pétalas de flor acabando de nascer...
me conta do rouxinol apaixonado pela bailarina desde que ela vivia na caixinha, e das músicas que ele canta no silêncio deste amor, nas manhãs antes que as horas ardam...
- você não sabe contar histórias assim?
então conta aquela de quando me conheceu numa foto e já se apaixonou...


albanegromonte

julho 19, 2010

De Hoje

agora que me vejo através do espelho passado,
encontro presente o que sempre fui e não pretendia...
à soleira da porta,
um bem-te-vi me avisa que é hora,
língua do sol me lambe a perna que foge do lençol amarrotado
e pelas íris quase nuas de visão, entendo a manhã anunciada
como um bilhete do Tempo que ido assim
nem se fez sentir ausente.
e pressinto através dos sentidos absurdos, o cheiro de mar, de vento, de tempestade...
retorno ao sonho para te encontrar ali inerte, ante a criação do mundo
olhos enviesados de sempre
mãos que não se acham onde ficar...
e é mesmo você, que me olha então da porta sonolenta quase fechada desta dimensão que não alcanço
e é este seu sorriso de flor empalhada
que me acende as cores
me faz descer arco-íris e nuvens
rumo ao rio que me soa o Douro, melancólico rio
onde vou navegar meu sonho de estar sempre em você.

albanegromonte

julho 18, 2010

To You (escrito antes, mas eu não sabia)

Raio de luz
Quebrando a bruma
lume cone de aeroplano
Avalon, deusa-Mãe:
Fogueiras tântricas serpenteando nossos corpos nus
vestidas nas fantasias delas- Elas
-todas em nosso espelho Matrix RevolutionsBlow Up- Click!
Eu era Ursula no filme de James Bond
- my name is Bond!

Angelina tu, Jolie Tomb Raiderno céu sem estrelas dos anjos alemães que saltavam de trapézios inacabados
no filme de Win- I won- This war

Nenhuma meiga Meg.
Olhar fantasma desespero
e espero perguntando ao pó que nem Allen.
Dust. Ask TheTróia, Briseida meu calcanhar
o teu perfurado pela flecha harpia olhos de.
Mulher-Gavião, Mulher-Gato, Stormy Tempestade de areia
e Névoa...
XY
XX
Gattaca. 1984. Blade Runner. Torre Negra de Stephen King.
Morgana, Guinevere, Eva, Lilith, Gioconda, Madonna, Marilyn, Garbo
eu&ela
Nina, menina na madrugada sem fim
infinda em minha alma
Espírito dela.
Minha Santa.
Desmancho em cores da minha orgulhosa bandeira
-um laço de fita pra te enfeitar-

albanegromonte

E...


dentro do meu olhar mora um grito
anunciado este, que envolve dias quase inteiros e noites em claro
mesmo que escuro seja este olhar...
e no avesso das minhas pálpebras você está.
entre o grito e o desespero solene do espelho que se parte
após a palavra não dita
antes do verbo que se forma na garganta
e correndo pela trilha das lágrimas que se faz nos sulcos da minha alma
eu vejo teu sorriso desmaiando
eu sinto teu cheiro de violetas
eu toco tua pele translúcida.
e enquanto se esvai tua imagem
no cochilo das minhas pálpebras cansadas
amparo o querer ser algo além da memória, da saudade, do destino...
e desfaço o nó do entendimento nas palavras cruzadas que faço de olhos fechados
desfiando a teia do sentimento que nunca se finda em mim.

albanegromonte

Caminhos Do Espelho


E sobretudo olhar com incidência. Como se nada se passasse, o que é certo.
Mas a ti quero olhar-te até estares longe do meu medo, como um pássaro no limite afiado da noite.
Como uma menina de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esbatido pela chuva.
Como quando se abre uma flor e se revela o coração que não tem.
Todos os gestos do meu corpo e voz para fazer de mim a oferenda, o ramo que o vento abandona no umbral.
Cobre a memória da tua cara com a máscara daquela que serás e afugenta a menina que foste.
A nossa noite dispersou-se com a neblina. É a estação dos alimentos fritos
E a sede, a minha memória é de sede, eu em baixo, no fundo, no poço, bebia, recordo.
Cair como um animal ferido no lugar de hipotéticas revelações.
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento. Tudo fechado e o vento dentro.
Sob o negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Ha alguem aqui que treme.
Ainda que diga sol e lua e estrelas refiro-me a coisas que me acontecem.
E o que desejava eu?
Desejava um silêncio perfeito
Por isso falo.
A noite parece um grito de lobo.
Delícia de perder-se na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui á procura de quem sou. Peregrina, avancei em direção àquela que dorme num país ao vento.
A minha queda sem fim na minha queda sem fim onde inguém me esperava pois ao descobrir quem me esperava outra não vi senão a mim mesma.
Algo cai no silêncio. A minha palavra foi eu embora me referisse à aurora luminosa.
Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento.
Deslumbramento do dia, pássaros na manhã. Uma mão desata as trevas, arasta a cabeleira da afogada que não cessa de passar pelo espelho. Volto à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos de luto, hei-de compreender o que a minha voz diz.

Alejandra Pizarnik

Um Nome de Canção


quero ser em ti
o que nunca pensei ser em alguém
desvendar tua alma, deixá-la num canto e buscar teu cheiro em abraços tímidos,
teu sabor de língua e chocolate,
tua maciez imaginada em noites que se foram assim vazias e agora não mais.
quero que sejas em mim
a promessa de eternidade
a música suave que leva os pares de borboletas a dançar pelos veludos das folhas incautas
quero que vibre na ponta dos meus dedos,
cada sentido teu além dos 6 que existem em toda mulher.
quero você em mim,
menina, mulher
mãe, filha, amante
o que seja
apenas quero que em nós, vinguem os sentires dramáticos
dos poemas ainda não escritos e quem sabe serão
em tua pele, com os cílios meus a tatuar cada verso
deste amor que não se sabe
não se explica
nem se vê, além das íris do teu olhar
que vez por outra que nem agora, pousa no meu, assim cheio de vontades que nem me atrevo
a traduzir.

albanegromonte