julho 21, 2007

Ela


É sabido que ela virá de longe.

Da terra do Sol, ou das infinitas noites de frio.

Não se sabe pra onde ela se dirige,

quando toma o trem, o avião, o ônibus e o metrô

para finalmente chegar.


É sabido que trará nos olhos de âmbar

o vazio do quadro inacabado

abandonado pelo artista volúvel,

e nos lábios, o sabor dos beijos

que nunca aconteceram.

No corpo sem cicatrizes ou arranhões de noites selvagens

terá apenas a tênue penugem dourada

que vai se refletir na morenice

que vem de dentro

e explode para fora

em braços, coxas, barriga e seios.


Esta mulher que virá, morre por amor a cada dia que amanhece,

E renasce nas noites em que sonha.

Ela sabe que nunca será amada

que carícias virgens não terão pele onde ancorar

Ela sabe que o tempo corre mais veloz

que todas as horas do seu desejo reprimido

em risos nervosos e agulhas de tricô

que alinhavam a fina malha dos sentimentos impunes


É sabido que todo amor

que fustiga o peito atormentado dessa mulher que virá,

E ela virá, um dia se transformará

em urna de cinzas mornas

pousada num altar

profano de deuses que assim profetizaram,

quando ela, a que se sabia que chegaria,

fugiu do paraíso


albanegromonte

Nenhum comentário: