novembro 22, 2010
Carcere
entre a boca que se abre num sorriso, e o olhar que se perde na linha além do mar,
mora meu lado de dentro
é lado que você não queria conhecer
ruim que é de se ver, tocar ou amar.
neste espaço que disse antes, mal cabe uma cicatriz
(existe, é verdade, mas se enrosca sobre os lençois encarnados de outrora, tentando ficar invisível)
é neste oco de mim, que desencontro a tristeza, que me olho no espelho invertido e vejo que minha alma não é assim tão preparada para partir
é de lá que fito os abismos, que descalço os sapatos e esmago os espinhos que me feriram
e lá tem uma garrafa de absinto que bebo em goles infinitos
-em taça de cristal verde, que nem os olhos do Ciúme
é lá que me arrebento em paredes de saudades incolores, que escrevo meus ais, que guardo minhas faltas, é lá que escondo as páginas arrancadas do livro não-escrito, desaberto em tolas páginas de papel amarelado pelas horas de tentar,
os poemas que não escrevo,
as músicas que nunca cantarei.
lá eu me viro no avesso, me entorto e me permito ser cega como sei que sou, quando tiro os óculos e só o escuro dos contornos me chegam ao olhar.
é lá que a dor maior de não ver se encontra com o vazio estúpido da minha permanência na Terra
é lá que posso lançar meu grito de interrogação
onde procuro o filho que não tive
e sinto o frio da solidão que me acompanhará na eternidade do que não deixei para marcar minha passagem por aqui
é lá onde às vezes me tranco por dentro e não atendo aos chamados
é lá onde sou tão infeliz que dou risada de mim.
albanegromonte
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4 comentários:
Sabe tão bem estar aqui. Ler um bom texto.
Até custa partir...
(hoje estou lamechas...)
Oi, M.
Fico feliz que esteja aqui, e que tenha gostado.
Não parta, ora... tem muitos textos para que se distraia...
Beijos
ps: grata por me ensinar palavra nova! Gostei tanto que já penso num verso com ela.
Aguardo...
Que boa que foi a espera...
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