Carta escrita por Manuel Bandeira a Mário de Andrade, na década de 30, relatando sessão musical comVilla-Lobos na casa deste último
"Depois do jantar, Villa cantou duas coisas de uma série de serestas que está compondo. A primeira é A Pobre Cega. A segunda é O Anjo da Guarda. A música do Anjo está matando, parece uma tarde que não acaba mais. Fiquei com os olhos cheios d'água e me atraquei com o Villa. Beijei-o. Que bruta comoção, puta merda! Quando ele diz: "um anjo moreno violento e bom - brasileiro" é tal e qual a minha irmã, Martha. A música é de uma simplicidade e uma elevação. Toda consoante, mas de técnica bem moderna. Imagine, o acompanhamento é um tema sincopado popular e, antes de começar o canto, o piano faz o floreio de violão. Começa o canto. Quando chega "ao pé de mim", há um AH!, e o piano faz um intermezzo movimentado e depois volta a baita melancolia do canto com que canta a melodia, que vai ficando suspenso. Eu senti uma felicidade! Vai demorar a se publicar, porque o Vila já vendeu a suíte para o Sampaio Araújo, que manda imprimir na Alemanha. Porém, eu arrumei com o Vila mandar tirar cópia para mim. Depois tirarei uma pra você, pois estou doido que você conheça".
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