março 31, 2009

escancaradamente piegas


(a você, Vidão, pelos dois anos de amor pra sempre)



se eu pudesse iluminar as palavras e te dizer de um jeito tão claro quanto o sorriso que brilha em teu rosto a cada manhã,
eu diria das coisas todas transformadas em mim, depois que coloquei a teus pés, meu coração partido.
e quantas horas, dias meses se passaram até que no final destes 731 dias, eu possa crer que enfim, este coração remendado tão bem que nem sequer se nota, eu posso te dar.
toma este meu coração inteiro e refeito por este teu amor.
ele é teu,
como são tuas as manhãs de pássaros cantantes, que erram a hora e nos acordam sempre antes
como é teu este dia todo que corre veloz até que a tarde fique rósea, e eu ou tu estejamos a espera, na varanda coroada de insetos engraçados ou da canção de amor que brota no meu violão que nunca mais emudeceu,
como é tua a noite que se tornou única depois que teu peito me abriga a cabeça e espanta qualquer pesadelo,
como são tuas as madrugadas em que abro os olhos e te aprendo um pouco mais, enquanto teus sonhos trazem um sorriso do menino que eu conheci um dia e perdi sem querer...
o menino que era o homem de hoje, e que eu encontrei por querer
o homem que me leva pela mão através do tempo e que me faz renascer a cada movimento do olhar sobre mim.

se eu pudesse iluminar as palavras, eu te diria de uma forma mais clara
o tanto que é grande este meu amor por ti,
mais que tudo, para sempre e aquela coisa toda.


albanegromonte

março 20, 2009

Tempestade


Escolho ao acaso um poema pra ler e
escondo a vontade entre as letras
aflita
de atravessar a noite buscando teu olhar mais uma vez
Chuva impiedosa bate na vidraça vento quente
taça de vinho quebrada e
a fumaça assassina velha companheira vai devorando pulmões
e pensamentos de ti
(trago o gargalo da garrafa nos lábios inquietos)
Bala doce com teu gosto
volteia minha língua descalça
Chamas incandescentes ardem meu corpo frio
que sente a falta do teu
(dedos mornos meus me buscam em lembranças firmes)
...
Cavalo alado do teu dorso passa pelos meus olhos fechados
em direção ao mar
Dragão do meu desejo se insinua pelo tornozelo nu
(traços destroços de paixão desmedida)
Vento lilás balança a árvore rósea e Cecília sorri pra mim

(Epigrama 11)

Tempestade se aproxima assustando as páginas do livro aberto
vírgulas engolidas pelo suicídio de quem leu e se foi
ou de quem foi sem ter direito a ler
por não saber ou por não querer ninguém saberá
Estas mãos que te renderam buscam no vazio a textura da pele
e o silêncio desta ausência de todas as ausências
ecoa no acorde que acorda a trilha sonora do compositor surdo
(e não é absurdo que alguém não ouça o que se melodia?)
Escolho ao acaso o poema pra não ler
paro na frase olho de furacão
Cecília chora não chora Cecília
Árida mente semente mente
Abro os olhos e fecho o livro
Apago a luz e acendo a loucura

albanegromonte

março 12, 2009

Agora, Este é Meu Reino



12 de março. Feliz Aniversário, Olinda!

"...Olinda esse meu canto
Foi inspirado em teu louvor
Entre confetes e serpentinas
Venho te oferecer
Com alegria o meu amor

Olinda! Quero cantar a ti esta canção
Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar
Em Olinda sem igual"

(Hino do Elefante de Olinda, excerto)

fevereiro 17, 2009

Eduardo

Quando iniciei minha jornada no mundo virtual, aprendi muitas coisas de uma só vez.
As verdadeiramente importantes ficaram.
Você me apresentou a algumas delas, e é pra você, que vai esse trecho do tão complexo e maravilhoso livro primeiro que comprei sob sua influência.
Seja você, sempre o nosso Apanhador.
Gracias.
Besos e aquela coisa toda.

A irmã do Holden, Phoebe, pergunta a ele o que ele gostaria de fazer da vida, de ser, e ele diz:

"..Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa, num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo, quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio"

Salinger

fevereiro 12, 2009

Desasossego


"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".


(Fernando Pessoa)Bernardo Soares, em O Livro Do Desasossego

fevereiro 05, 2009

Vinícius


Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro…
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar…

de Poemas Esparsos