fevereiro 17, 2009

Eduardo

Quando iniciei minha jornada no mundo virtual, aprendi muitas coisas de uma só vez.
As verdadeiramente importantes ficaram.
Você me apresentou a algumas delas, e é pra você, que vai esse trecho do tão complexo e maravilhoso livro primeiro que comprei sob sua influência.
Seja você, sempre o nosso Apanhador.
Gracias.
Besos e aquela coisa toda.

A irmã do Holden, Phoebe, pergunta a ele o que ele gostaria de fazer da vida, de ser, e ele diz:

"..Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa, num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo, quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio"

Salinger

fevereiro 12, 2009

Desasossego


"O cansaço de todas as ilusões e de tudo que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim".


(Fernando Pessoa)Bernardo Soares, em O Livro Do Desasossego

fevereiro 05, 2009

Vinícius


Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro…
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar…

de Poemas Esparsos

fevereiro 03, 2009

João


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

João Guimarães Rosa

janeiro 13, 2009

Ana C.


acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três outros rostos que amei.
num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
qual tarde de maio
como um trunfo escondido na manga
carrego comigo tua última carta
cortada
uma cartada
não, amor, isso não é literatura.



Ana Cristina César

janeiro 08, 2009

Não, Não É Poesia


Carta de uma mãe árabe

copiei esta carta, no blog do Marcelo (http://yohoy.blogspot.com/)


Aqui neste meu cantinho, costumo postar apenas versos que acho por aí- nos livros, na web, na minha cabeça ou no meu coração-
Vez por outra, uma notícia que me fez pensar um pouco mais. Entretanto, nos últimos dias, vem surgindo quase sem querer, uma sequência de fotos e referências a esta barbárie que ruge nas entranhas dos selvagens homens do planeta terra.
Ao visitar meus amigos cronopios outros, achei esta carta no Yohoy.
Desnecessário dizer mais.
Lá, podemos ler a resposta do Marcelo e mais outra carta da Fatima.


"Ontem , estava assistindo ao noticiário e vi umas das cenas mais revoltantes da minha vida , e olha que já vi coisas terríveis desde que me mudei para o Oriente Médio (se estivesse no Brasil com certeza não seria exibida)
Um pai chorando , carregando seu filho , uma criança de 2 anos morta e em seu desespero ele pedia ao cinegrafista que mostrasse o "TERRORISTA" que o exército acabara de matar ... O choro deste homem , me provocou uma imensa dor , mas um sentimento maior :REVOLTA ... Tenho um filho da mesma idade , coloquei-o no meu colo e comecei a chorar .... a cena é uma entre milhares que são exibidas todos os dias nos noticiários daqui ... e se descrevesse-as correria o risco de ser chamada de exagerada ....
Não consegui dormir a noite , olhava a todo momento os meus filhos .... como se o meu olhar os protegesse ... e me perguntava como deve ser o sentimento da mães palestinas que nessa noite tão fria no Oriente Médio , não conseguem proteger seus filhos do frio , da fome , mais acima de tudo do terror que estão passando , .... não consigo pensar em nada que me faça diminuir minha revolta ... tenho chorado constantemente , e meu olhar dirigido aos meus filhos ... eles me perguntam se estou com UAUAA (dor ou machucado na linguagem infantil aqui) , digo a eles que sim , estou com UAUAA , seguida da pergunta - onde está a UAUAA mama? aponto meu coração ..."

FATIMA MUSTAPHA