novembro 25, 2008

Canção De Uma Apaixonada



ao meu amor.
ele sabe o porquê.





Quando me fazes alegre

Penso por vezes:

Agora poderia morrer

Então seria feliz

Até o fim.



E quando envelheceres

E pensares em mim

Estarei como hoje

E terás um amor

Sempre jovem.

Brecht

Apago a luz do quarto e escureço em mim.
Cristal amargo feito de sangue e sal, retorce em meu peito, subindo-me a garganta nua e lentamente desespera meu coração que dormia em paz.
Nunca mais estas dores e apertos em mim se sentiam.
Tapetes encobriam o que pensava varrido até a largura dos imperfeitos dias que se foram.
Agora, que se apaga a luz e escurece em mim o gesto, a canção, o girar do sol
Cubro a vergonha de chorar pelo vazio, pelo oco da alma que suspira em ritmo alucinado de medo.
Em vertigem alucinada de tempestade anunciada, fecho as portas do meu castelo de vidro e grito à dor que bate ainda devagar:
"Não estou mais aqui"

albanegromonte

Gravura sequestrada aqui: http://vebarros08.wordpress.com/

Poeta Lusitana


Abriu no colchão as valas possíveis
e enterrou por ordem alfabética
cada parte do corpo: os pêlos
os pântanos as unhas encravadas
e as unhas que outros cravaram pelas coxas.
Estudou cuidadosamente as ondas as horas
para que não restassem dúvidas
sobre os caminhos marítimos
para a noite. Por fim
podou todas as janelas do quarto;
bebeu o vinho;
roeu a carne do quarto
até não sobrar nenhum coração.

Catarina Nunes de Almeida

novembro 10, 2008

Ana


Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
os restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.



Ana Cristina César

outubro 24, 2008

Violet


em meu olhar, pousa um rouxinol mudo. em águas turvas entro com pedras nos bolsos da camisa que me cobre o corpo. o mar me chama. a tristeza de mim, empurra cada passo dentro da água pontilhada de estrelas que deviam estar no céu.
Cortazar me disse que a violeta é uma cor triste.
eu acreditei. mas uma violeta viva se atirou de um décimo andar na avenida que olha pro Atlãntico, bem a meus pés, então entendi a tristeza de ser violeta.
é mesmo triste ser frágil. a dose a mais ou a menos de cuidado... fere, castiga, rasga e mata.
violeta que sou e nem sabia, me atirei junto com esta me abraçou no último suspiro do décimo andar onde moras e corri pro mar, catando pedras e conchas pelo caminho areado, e jogando nos bolsos da camisa que guarda um coração que só bate por teu existir, e se tu já és morto em mim, não pode mais existir tal coração.
eu e a violeta entramos no mar e acolhidas fomos pela rainha que nos disse bem vindas ao Paraíso, enfim.
morremos.
eu e a violeta atirada da tua janela.

albanegromonte

escrito após leitura de Virgínia W. em ano qualquer.