novembro 27, 2007

Hilda, sempre um prazer

Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo. Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente. Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.

Hilda Hist

novembro 23, 2007

G.


Ecoa em minha boca, o gosto do vinho branco.

Em tolices noturnas que me trazem ares de antigas paisagens, retorno e sei da volta que será assim: dantesca e necessitando de moeda pra pagar a travessia.

Passado existe e se esconde entre as dobras do tempo e das cortinas amareladas pelos ventos e tempestades que já.

Nem sei se devia eu, assim tão ainda sem saber, voltar aos incertos pensamentos do que fui.

Ou pensei que.

Nem sei mais.

Apenas o grito mudo do filho que não tive, invade a aridez do meu ventre e penso que a salvação de toda a danação dessa vida só seria expiada se ele (ou ela), pulasse da estrela, e caísse aqui em meus braços pra dizer que sim, sou fértil, e não só dores e amargura podem brotar deste pobre e manco coração.

-Deus!

Um dia a gente se encontra e eu olhando bem nos Seus divinos olhos perguntarei assim como quem sabe que terá perdão pela ousadia da interrogação.

-Por que?

E então será uma brisa que me acalmará, meus olhos serão de esperança, e resignação baterá em meu peito como se dor jamais houvesse. Saberei enfim, e perdoarei os dias sem luz que tive por herança de meu pai nesta terra desvalida e que já encontrei assim, sem saída.

E saberei que não foi por falta de amor, e sim por aquela resposta que nem sei mas chegará.

E este querer todo que me corrói as entranhas, que me nubla o olhar e que me faz infeliz quando sei que hoje, tudo tenho pois resgatei do fim do mundo quando tudo já se findava e as luzes se apagavam.

Resgatei o tempo e o ser feliz.

Hoje tenhos olhos que saciam a escuridão dos meus, pois me pousam na alma como se nunca tivesse feito outra coisa, que não fosse me guiar pelos caminhos da vida que passa e.

E tenho, sei.

Este amado que se faz a cada dia mais e mais.

Que tudo e sempre.

E não há momento nenhum nesta vida em que não seja dele o meu pensamento e a minha palavra dita ou emudecida em acordes do meu violão que faz uma serenata embaixo da janela do nosso quarto, enquanto ele dorme e também os passarinhos que em poucas horas vão nos acordar.

E não há poesia sem o sorriso que ele derrama sobre meu corpo enquanto amanhece eu abro os olhos que iluminam minha alma.

Sei apenas que.

Ele é o meu amado que chegou enfim.

Ainda que não se propague e persista na terra nossa semente.

Um dia eu sei, viremos nós desde o começo, sem pausas, sem trevas.

Apenas assim, como hoje.

Mais que tudo e para sempre.

Nós

(Você sabe)


albanegromonte





novembro 06, 2007

Casa Vazia


Poema nenhum, nunca mais,

será um acontecimento:

escrevemos cada vez mais

para um mundo cada vez menos,



para esse público dos ermos

composto apenas de nós mesmos,



uns joões batistas a pregar

para as dobras de suas túnicas

seu deserto particular,



ou cães latindo, noite e dia,

dentro de uma casa vazia.


Alberto da Cunha Melo

outubro 30, 2007

Senhor do Tempo


O meu amado é o Senhor do Tempo.

Ele me toma horas, como se fossem dias,

Dias como se fossem meses,

Meses como se fossem anos.


O meu amado, Senhor do Tempo é.

Transmuta meus ponteiros, dando ré em todos os átimos,

fazendo centelhas de segundos,

transbordando meus minutos como se fossem seus.


E são.


Todos os que sei de mim até dez meses atrás, quando sombra era,

quando existia por nada e tudo me parecia longe.

Hoje perto tenho seu olhar doce pousado nos meus cílios,

Que transcendem em coisas de ver que nem imaginava eu.


Falta me faz o que te sobra,

Senhor do Tempo que és...

O dito cujo que me levou de ti há 28.

O tal que me trouxe de volta ao enverdecido olhar que se emociona qual


E eu em ti me desarvoro

Segundos, Minutos, Horas, Meses...

Esperando os anos e séculos que se anunciam neste gostar de te amar

Neste querer te ter além de tudo


Além de mim, além desta coisa toda que renasce a cada manhã

Quando a Arara canta seus amores

Que nem eu,

Que me desmantelo, me quebro e amoleço, se me olhas assim meio que nem

Antigamente.

Ah...

E eu sedenta de ti,

Roubo dentes e pele,

Arremesso asas de tanto que nem sabia voar, mas sei.

E se este vôo existe, é para te encontrar sempre

A cada noite que finda, quando ancoro meu barco

No teu peito- porto seguro

E me faço corsário preso.


De ti eu sei que sou desde que o Tempo

(do qual és o Senhor)

não me afligia, nem dizia: Apressa-te, pois.

(Tinha eu- achava- todo ele, o tal, em mãos de fada que se fazia

Em histórias mal contadas, mas.

Veio a corrente e te levou a mim, ou não?

Nem sei.


Sei do atraso, da hora partida

Do olhar não compreendido, do desejo que se fez em outra boca, e.


Sei dos anos que correram, cisnes solitários em lago agitado, pois

Era eu a tua, e nem sabia

Eras meu, mas.


Por amor, ou não

Caminhos se desfizeram em nós.


Mas destino existe é pra se cumprir

E no atlas traçado há tanto,

Eu, caçadora de ti, achei, encontrei

Teu olhar emocionado sob pálpebras que mais pareciam liras.

Ou lírios.

Mas sim amarelos, que era a cor com que te cobrias.


E atirei a margarida sonsa no teu caminhar

E me interpus

E me fiz de novo Eu


Tua, como sempre se soube


Amado Senhor do Tempo és.

E me tomas passado e futuro num presente que é de nós dois.

Nós, a Vida, o Sentimento e.


albanegromonte


(ao homem que amo, quando 10 meses se fizeram em nossas mentes,

tantos anos que nem se conta, pra não saber a idade)

Passos


ainda te direi mais deste grande amor.


te contarei dos dias que se diluiam em noites eternas e perigosas, onde eu escorregava minha sanidade, em paralepípedos de pesadelos, em febres mortais, em potes de água e sal que se chamavam então lágrimas de dor.


te direi do salto no escuro, da flor que murchava sem gota de orvalho sequer, do meu coração que só batia quando não podia mais ser outra coisa a manter-me viva.


te contarei da solidão, da vontade sombria, da voz que calava em minha mente aquilo tudo que sabe-se ser desumano, ser perigoso.


te direi da desesperança, da ausência de cores, do perfume que se esvaía no ar rarefeito, das crianças magras que me pediam abrigo numa alma que se transmutava em pedra, em cal, em mármore azulado.


era eu.


te contarei do arco-íris amarelo que te envolveu e do sorriso teu que ultrapassou a geleira dos pixels, chegando quente ao meu olhar seco e quase cego. eu também sorri, e de volta um calor de onde nem sei me trouxe paz por um interminável segundo que rodou meus relógios todos.


e então colinas do meu peito se abriram em clareiras e o sol apareceu por trás das nuvens que não mais carregavam chuva. devagar e sempre, teu eco de carinho se espalhou pela 232 e fomos num dia de dezembro que terminava em um ano que nem era assim tão bom, pelas calçadas do antigo bairro onde eu morava e não mais.


e veio o tempo de reconhecer em cada letra, cada verso, cada gesto, o poder deste sentimento que se agigantou em nós, que derivou em lavas incandescentes pelas nossas encostas, nossas costas.


e eu te pedi, me ama. e me amaste como nunca fora. e eu a ti, entreguei coração retraçado em linhas que só diziam de ti.


agora somos nós dois.


e esta festa toda que se chama Vida é nossa.


albanegromonte

outubro 26, 2007

Vitral


pois enquanto eu era sem ti, meus olhos se apagavam quando acendia o sol.

e não havia brilho, e não havia cor

enquanto.

era eu pedra no lado esquerdo do peito

tambor desavisado que batia em descompasso com a música da vida

que corria lá fora da minha janela,

longe das marcas do meu passaporte pra lugar nenhum, pois não estavas lá

enquanto.

era eu sem ti, uma vela içada, parada no mar que então se fazia em silêncio

era perfume solto na flor abandonada no asfalto

era assim.

mas tu me chegaste, sem me avisar da vinda

e azul se fez em meus olhos,

e cores todas se aconteceram sem que eu nem conseguisse conter

aí veio a luz

veio o ser feliz com nada, com tudo

veio tua vida se entrelaçar na minha

e meu coração bateu enfim no compasso de um amor

que reinventou minha alma

que desafiou o tempo

e que se fez em nós.

enquanto sempre seremos assim.


albanegromonte