agosto 29, 2006

Dizer Minúsculo

sei de ti
apenas em mim:
quando esta saudade
abre as asas
sobre meu/teu coração

então choro


albanegromonte

Cronopiando...

A vida é breve.
O amor dura uma estação
Então porque você não me pede pra voltar?

albanegromonte

Do Teatro


Fóssemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.

Bertold Brecht

Cimitarra Branca


não é sempre, mas quase.
o certo, é que o incerto bate na porta da razão e grita surdamente: nunca mais de novo.
dá mesmo é vontade de sorrir do absurdo que antecede este dizer assim meio valente, um tanto de coragem de cavaleiro de cruzada, sem espada, sem cavalo, olhando pras cimitarras brilhantes embaixo do sol inclemente do lado oriental do mundo.
(que coisa mais boba de imaginar, em plena era matrixreloadedminorityreport).
e como era mesmo o nome da princesa das orelhas pontudas que sorria na versão oscarizada de lordoftherings ? aquele tal Tolkien que me ensinou a crer em fantasia além de Alice&Lewis. sem o mal, não sobrevive o bem... não é?
penso assim: Deus precisa do Anjo Negro para reforçar sua presença nos corações&almas humanas.
é... não deveria ser sempre, nem certo o anteceder da vingança ser
o mal feito, o mal dito maldito, o nemquerosaber...
eita! a língua afiada agora chicoteia a razão, mas a emoção não pára
e continuo zangada com você e repito até que o eco da montanha mannistica se canse, e grite uma resposta diferente da minha perguntinha bola de gude:
quando vou te ver além deste espaço?
sinuca de bico, tempestade no céu da boca sem nuvens, rolando na língua o chocolate que a moça do restaurante me deu por baixo do balcão, piscando o olho,
irreverente olho de vidro.
então faça as malas e vá pra estação que o trem das doze já vai sair pra trazer você pra mim.

albanegromonte

Primeiro Texto


tive todas as respostas, menos uma que me dissesse de ti o que sentes.
e no azulejo frio do banheiro, derrama-se a espuma do poema que te faria hoje, se não fosse ontem o teu silêncio de tudo.

(pousa na janela um rouxinol.
canta em si maior, a canção mais bela que meus ouvidos treinados em gritos de dor já ouviu nestes tantos anos de noites insones e cheias de sabedoria).

tenho todas as perguntas, menos aquela que me dará a resposta ansiada, desejada.
amaldiçoada pergunta que não chega até a ponta dos dedos que correm furiosos pela tela vazia, pela folha em branco que alça vôo pela janela em direção ao mar.
maldita resposta que te revelará a verdadeira face do desencanto de mim.
maldito querer esse que se chegou quando eu estava tão bem cá no escuro, com frio, morta de medo, mas sem a saudade incômoda do que nunca aconteceu e nem acontecerá.

uma mulher sobe as escadas do prédio arrastando as sandálias quebradas.
ponta de cigarro queima no tapete da sua sala e ela não sabe que morrerá queimada esta noite.
que o som dos tambores acolherá seus gritos de socorro, e antes que o dia termine
seu corpo carbonizado descerá ao Inferno envolto em brumas de um Avalon qualquer.

(diz-se que o Céu ou o Inferno, são a imagem poética que trazemos em nossas mentes desde os principios dos Tempos)

e não há cólera, trovão ou tempestade
que despetale a flor do esquecimento que brota no meu peito cheio de cicatrizes.
punhais de prata e balas de ouro, seguem zunindo meus lábios, e bebo um cálice de Absinto pra esquecer da dor
que é viver.

viver é difícil, perigoso e doloroso.
a vida nunca me foi fácil.
nunca vi Príncipe Encantado, nem tive nada caído do céu.
a não ser chuva, quando eu estava desprotegida e sem dinheiro pro taxi.

tem uma rua em Paris, que eu queria conhecer.
um filme com a Rita Hayworth que eu queria assistir.
um poema de Pessoa que nunca li.
um Cortazar que nunca tive.
mas não há tempo pra distrações.

a vida pesa e me leva pelas tormentas diárias, e
acordar cedo, dormir tarde, ouvir o barulho do motor, ter como carícia no final da noite dez travesseiros sobre a cama que amanhecem inesperedamente entre as pernas, é o que tenho pra correr, pra desesperar, pra me esperar.

a vida, meu amigo, dói pra quem não é santo nem puta.
a vida é revés.
é planta carnívora, esfinge de botequim: decifra-me e te devorarei do mesmo jeito, no final de tudo.
a vida é o prenúncio da Morte.
e a Morte é o descanso do guerreiro sem causa.
é a bandeira branca que se desfralda quando já não se aguenta o torpor, a miséria, a solidão e o sal das lágrimas derramadas já enche um pote de vidro.

a vida se esparrama pela ladeira, quebra os vasos onde guardamos as violetas, e se faz em cores de Almodóvar pelos vestidos de Frida Kahlo.
a vida exige um poema de Bernardo Soares (o heterônimo desprezado).
a vida quer ser filmada por Tarantino, estrelada por Jonh Turturro e Angelina Jolie.
a vida é uma página de jornal onde você lê seu obituário e não acredita que já se passou tanto tempo que você está do outro lado do espelho e o que está sendo vivido e morto agora, é apenas o reflexo invertido da soma das hipotenusas de Einstein, que são tão tristes quanto uma tela de Munch.

a vida, deste lado do espelho é a morte.
irmãs siamesas desde o Caos até o Apocalipse.
e só se desfazem em duas quando sempre foram unas, quando o nó do destino refaz o caminho desta hora até o dia em que você nasceu
e chorou pela primeira vez. como quem já sabia o que lhe esperava neste canto desgovernado, sem eira, sem porteira, nonada de Rosa 50 anos de incompreensão, e sem setas indicativas que é o Planeta Terra.

albanegromonte

em 2oo5

Credo Enigma


creio que há Anjos andando pela Terra
creio em Sereias, Duendes e Dragões.

creio nos Cristos ressucitados das religiões várias doMundo
e que Jesus foi o mais sábio
creio nos Evangelhos Apócrifos
creio em Marcos, João, Mateus e Lucas

creio em Pasárgada, Kripton, Gotham City
creio na Atlântida e no País das Maravilhas

creio em Bruxas e em Vampiros
creio em Fantasmas, em Discos Voadores
creio em Cegonhas e em Peter Pan

creio que o Amor é a grande Força
que Dinheiro traz Felicidade
creio na vida além da Morte
creio que o Inferno é aqui

creio em Aquiles, Ulisses, Édipo
creio em Zumbi, Lampião Cazuza , Cassia e Renato
creio em Mickey e em Branca de Neve

creio que Borges ficou cego antes de saber
creio que Ernest não queria se matar
nem Sílvia, nem Ana, nem Torquato, nem Virgínia
creio que Poetas têm tanta sede de Vida
que experimentam a Morte só pra ter Certeza

creio no Fenix que renasce
creio em Ninjas e Samurais
creio que alguém de fato sabe escrever Hai-Kais e Sonetos
creio em Versos Livres e Poemas Concretos

creio que Federico ainda está vivo
que Bandeira mora numa Estrela
e São Jorge dorme na Lua três vezes por mês
creio que Vinícius toma um whisky com Tom todas as Noites,
antes de subir ao Céu pra dormir com uma Morena

creio que ainda vou crer que existe Razão
qualquer
para que eu esteja Aqui e não Ali,
do outro Lado
?

(Lado)
musgo, pedra, ostra
repolho, acúleo, celacanto
alga marinha, coelho atrasado
gato sem botas
árvore com folhas vermelhas
ou gota de água
belisco de brasa
flagelo de vento
pedaço de pano roto
letra mal escrita
palavra mal dita
chinelo usado
chave perdida
elo de corrente
alguma estrada pra lugar nenhum
sombra de fantasma
desejo de condenado
bola de neve no meio do deserto?

(Esse)

creio que estou Nesse e não Naquele
Lado do rio que passa bem longe,
mas que molha o Chão da tua Casa
através das Telhas
da calha
das minhas Lágrimas
mergulhos etéreos de um Nada que poderia ser Tudo
se assim estivesse Escrito
no meu Credo

albanegromonte