olhar este que se volta quando passa minha alma desnuda, olhar que nem sei a cor, mas que me reconhece através do brilho apagado que exalo entre os fios de cabelo que soltam nos pentes agora. olhar amigo, companheiro e que parece ter meus pensamentos descritos em pequenos dizeres que só eu ouço, que se transformam em força, que destroem meus medos, fazendo ruir as tristezas de outrora. olhar que percebo em linha escritas quase em braille, olhar que me impele e me faz crer que existem anjos, e que à vezes eles estão perto demais para que se duvide que eles o são. dois nomes para chamá-lo e um só para senti-lo: amigo.
canto da sala desta minha alma, exala escuridão e abandono. do alto deste teto vermelho-sangue, segue pendurada que nem um enforcado, uma lâmpada queimada há tanto que já nem lembro a cor das paredes e há paredes que me encarceram neste sentimento antigo que trava meus movimentos, mantendo presos meus abraços para você que chama da porta que não tem chave, onde há chumbo intransponível. e enquanto derramo as lágrimas esquecidas de um tempo que pensava morto e tão enterrado, retorno ao umbigo atávico e me dobro em paz que não chega, que não vem, que surda e muda se esvai pelos meus dedos com unhas roídas pelas perdas, pelo esquecimento, pela dor de não querer e ter, que voltar a não-ser. estou eu.