abril 23, 2010

Memórias


eu era do nada, um pouco.
vagava no escuro,
tropeçava em meus pés descalços e caía a cada abismo que se dava.
(concessão de um mundo que se retirava de um outro, então)

era eu, um novelo desembrulhando dores
meus olhos derramavam sete cachoeiras de saudades.
tempo não havia.

sol e lua eram um só, encobertos pelos cílios negros que sempre acolheram minha visão.
e não havia luz, e não havia som nem cor.

eu era um pouco do nada
que se arrebentava a cada dia que advinhava pelos ponteiros da bomba-relógio
que batia descompassada no lado esquerdo do peito vazio.

era eu assim.

mas espelho da vida se retocou
e num mês 11, antes que no duodécimo se cumprisse a profecia da insanidade
acordei de mim
e te vi...

e aí começa outro verso que já não cabe aqui.


albanegromonte

Tão bonito isso...

"Não caibo nesta tarde que me desfolhas
sobre o coração. Renovam-se-me sob os passos
todos os caminhos e o dia é uma página que lida
e soletrada descubro inatingível como o vento a rua e a vida
As mesmas mãos que antes desfraldavam
domésticas insígnias abaixo dos beirais
emprestam novos pássaros às árvores
Pétala a pétala chego à corola desta minha hora
Roubo meu sera qualquer outro tempo
não há em mim memória de alguma morte
em nenhum outro lugar me edifiquei
Arredondas à minha volta os lábios para me dizer
recuo de repente àquele princípio que em tua boca tive
Eu sei que só tu sabes o meu nome
tentar sabê-lo foi afinal o única
esforço importante da minha vida
Sinto-me olhado e não tenho mais ser
que ser visto por ti. Há no meu ombro lugar
para o teu cansaço e a minha altura é para ser medida
palmo a palmo pela tua mão ferida"


Ruy Belo

Incertezas de um tempo passado... (da gaveta)



enquanto amarro no peito o laço invisível da saudade que carrego no coração
marco em vermelho os lábios
deixo que o Sol reveja parte de mim
e largo um sorriso plástico no meio da calçada por ando passo
derramando poesia em cada pé que se revela
a passos apressados de viver ainda mais.
e no peito carrego uma cruz
na cabeça um desejo
no sexo um sonho
no olhar uma distância
na flor que reage à tempestade uma esperança
no vazio as presenças
na saudade medonha um sorriso de qualquer sentir
que não seja o de te ter novamente aqui.
da tua janela uma luz
olho pro outro lado ainda que ninguém esteja lá para me acolher
e apago a estrela que te dei.
ainda acho que lembrança minha qualquer te entristecerá um dia,
mas de que serve esta incerteza?

albanegromonte

Cavaleiro das Estrelas


no pescoço,
um Jorge de ouro.

corpo fechado pelo manto vermelho
flechas e espadas não me tocam

tornozelo traz o dragão domado

- coração a fé.

e um dia haverá
em que Jorge me levará à Lua
e verei lá de cima
a terra todinha azul.

albanegromonte

abril 22, 2010

PalaVra dE miM


sOmbras
EspAços inacabados em meus dias e noites
que se refazeM como sE eu nãO já esTivessE
quAse moRta

raiO de sol aCorda Minhas peRnas,
anTes que meu sonhO se acabe
e nunca Mais conSegui tua boCa na minHa tão junto
que nãO seJa nestes sonHares impoStos pelo canSaço de viVer em vãO

acorDa o relóGio, o teLefonE, a faXineira
e eu Me enrosCo serPente
noS lençoiS sem teu cHeiro que jÁ nEm sei a coR
se é qUe houve cor qualquer num OutubRo frio
que arDe ainda no fogo sAgrado destA alma que choRa tuA
auSência, tUa quase pResenÇa
teu diZer coisa sem neXo
a me enTontecer de deseJo
carne minha tão tensa e ceGa
segue roLando ladeira aCima
que nem O outro contOu no InferNo que sonhou- oU conheceu- qUem saBerá?

não teNho noMe de flOr
O sou suaVe, nem sei dançaR.
dizem de mim, oS que se pensaM
que sOu vítiMa da oBsessão do aMor
amoR que nuncA vem
amOr que semprE vai e me deixA
sem somBra alGuma nuM deserTo maior que o Saara
alma tRôpega, taciturna, silenCiosa alMa qUe caRrega meu corPo
que agorA é teu, taManha a marca que cravAste em ferro fOgo&luZ

e Se não possO te beijaR
nem jaMais diZer que te aMo
rastrEio naS estrelas de nós doIs que às veZes me entram
pela fresta Da jAnela eteRnamente fechadA
um Poema de naDa,
uM dizer iNsano
um Qualquer imperfeitO verSo
prA tradUzir a ti, o verBo de mIm.


albanegromonte

abril 21, 2010

Lembrando Djabal. Onde anda você?


"Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acha que faz parte do meu coração. Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais."

Espelho, Sylvia Plath