dezembro 17, 2006

Tu

entre as notícias loucas que povoam jornais&TV, eu antecipo teu sorriso e só assim, posso continuar o dia que mal começou num sinal fechado com um pivete me ameaçando através da película escura que encobre os vidros do meu carro. não me assustei quanto devia, pois o tormento dos dias que se seguem são tão claramente violentos que tudo já parece trivial por baixo dos meus cílios. liguei o rádio e ouvi uma canção do Chico que fala de um amor guardado através dos tempos, a ser descoberto por escafandristas do futuro. pensei em nós e nessa ausência de tudo que é normal que nos acompanha... não sei teu cheiro, não me conheces o hálito. queria tocar tua pele, teu braço e peito de remador. queria minha cabeça no teu ombro e minha voz minha voz reconhecida no teu ouvido. ah, mas eu também queria tuas mãos torturando minha pele, encontrando as cicatrizes da alma e da palma da minha mão, onde um dia a cigana te leu na minha vida: quando tudo parecesse deserto e findo. ponto e vírgula para dizer que sim, já sei como te ver através dos minutos poucos que tenho de ti. estou de malas prontas e o navio me espera, pra cruzar o atlântico, através de mares&ares, até te chegar e encontrar em meio a uma orgia de palavras&gentes que nem sei se irás me reconhecer: eu uso óculos, não sei se sabias, e mal enxergo sem eles, ou preciso estar nua para poder ver o que me passa através do desejo e da dor desta saudade tensa e insana que me corrompe os dias e sóis, atravessando minha carne feito lança de herói, ou suspiro ventania de faca de atirador de circo que amador que é me atinge coração adentro, te encontrando deitado sobre a minha nuca,sobre minha longa cabeleira com mechas castanhas douradas pelo sol da minha metrópole cravada entre dois rios e que proclama a fome e a dor de ser pobre num país pobre, católico por invasão e incrédulo de tudo ao saber de mim e de ti, assim tão absolutamente desconhecidos e amados, e desejados e queridos... ah, meu rei, se um dia cruzar contigo na saleta de um aeroporto de uma pequena cidade no Japão, eu te reconhecerei. mas e tu? saberás que sou eu aquela que exala rosas em cada passo, mas que acende um cigarro atrás do outro enquanto fustiga as páginas de um livro de poesia e marca com caneta lilás o que acha mais bonito pra amanhã ou depois te repetir através da galáxia láctea ou azul que é a cor do meu jardim, que por hora não aflora pela imensa falta que faz esta tua voz quente aqui no meu labirinto de ouvir.

albanegromonte

Promessa De Estrela


Este foi escrito sobre um mote de Manuel Bandeira. Outro dos meus adorados poetas.

Enquanto brilha em fagulhas aéreas, etéreas a estrela do meu ser, adormece em meu colo o sonho de te ter um dia, quem sabe, além deste telescópio desatinado onde abrigo teu riso e teu segredo, agora também meu estrela cadente, caída, citada no meu verso reverso e transverso que fala de ti, para ti meu bem-querer tão doido, doído e desencontrado. pinto um quadro com tuas cores e espelho no chão em ponta de estrela fugitiva, fugidia que se esculpe em sombras e mármore, que se esconde na fotografia instantânea onde vi teu peito nu, e descalço os pés e piso em pétalas, em correnteza de rio que se encontra com o mar na vertigem de uma onda mansa e louca que desmaia na areia onde vejo o grão da saudade que me invade da tua voz rouca, da tua voz que atravessa o espaço vítreo e virtual das fontes cristalinas onde as páginas do livro que não li se amontoam molhadas e as palavras todas que tinha para te dizer, o que, já não sei, fogem, escapolem em epígrafe, prefácio, legendas e lendas, e eu no olho de furacão tão sereno, enquanto o mundo todo se dana, sigo esperando que este sentimento que não sei qual é se solte ou se amordace, se vá ou se deixe ficar no balanço das horas, no suor fino que salta dos meus poros quando te acho onde nunca te vi, ou senti, tanto faz, pois fecho os os olhos e lá estará tu... e meu gemido abissal com os olhos fechados e com todos os sonhos abertos... e a música não pára e a música não deixa que eu te esqueça, e é o blues que tocou no filme, e é o quadrinho animado, a pérola que se perde no tapete, o bicho de pelúcia sorridente ante a vela e o incenso que meu anjo pediu... enigma de estrela vadiando em meu céu cortado por um jato, por um pássaro de luto, minha janela lateral que se abre para o Atlântico, e o mundo é tão grande ... mas ainda vou te encontrar, minha prenda, estrela da vida que eu queria ter e terei. Eu sei.

albanegromonte

Dark Side


Um lamento numa madrugada qualquer

... eis que trava o fel no meu coração, o silêncio tumular que sopra agonias várias em meus ouvidos. e eu, que já não sabia o que fazer com este sentir estranho, acumulado no peito, deságuo através dos meus olhos envidraçados, as lembranças tolas que guardo nas retinas fotográficas que trago no meio do rosto-o tal terceiro olho de que tanto se fala, o lendário sexto sentido feminino, a marca das bruxas queimadas naquela inquisição abençoada pela santa igreja que hoje se ajoelha diante das tormentas do homem. eis que minha alma infantil, contadora de histórias e canções de amor despedaçado, infiltra-se de bolor e cansaço, coitada, vergando-se ao sabor da tua tormentosa presença em minha mente, do que nunca foi vivido e que, nem se sabia ao certo se seria, num certo rodar de planetas, quando a lua mudasse de estratégia e brilhasse única no céu da tua cidade. eis que levanto uma taça de vinho tinto e brindo ao nosso desamor. - na verdade, ao meu desamor- eis que as árvores entristecidas da avenida que passa ao lado da minha casa, murmuram afagos que não sinto, tão plena desta falta de não sei-o-quê-ou-se... eis que mais uma vez, vence o dragão da solidão, e me vejo rasgando tua foto imaginária que carrego no bolso da velha calça jeans. eis que a madrugada se vai antes que meu sono chegue e na TV passa um filme que fala de uma dor que nunca sentirei, graças ao vazio desértico das minhas entranhas, agora ainda mais áridas, depois que te arranco ávida de não mais sentir dor da serena memória dos planos que tive de um dia poder te amar.

albanegromonte

Oito Linhas

abandonado assim nos meus braços, ele diz que volta. acordado, sai devagar e delicado como quem pisa num coração. surto de ternura, e ele cobre meu corpo nu, dá comida pro gato, e se vai. meio da noite ou meia-noite? tanto faz, se o que importa mesmo é que ele não estará comigo quando o sol invadir o meu quarto, queimando minha perna que insiste em sair do lençol, queimando as lembranças todas da noite e secando a lágrima tola que me abre os olhos todas as manhãs. mas chega a noite, e eu nunca acredito no que vi.

albanegromonte

FenDas


Flor em brasa queima a folha. Serena folha que não sabia dos calores que se davam nessas horas. Língua farta onde se farta de seiva doce e macia. Onda de desejo vendaval de cores e sonhos nunca planejados. Ela. Em pele, carne e osso, sobre seu corpo mais carne que quando não era batizada. Pecado extremo, que deus nenhum há de perdoar. Vigia da porta do inferno chama em canções medievais - venha... solte as amarras que a prendem... Cabelos se enrodilham em pêlos curtos e os seios duros e tensos se encontram em harmonia.Sintonia, sinfonia de quereres e arderes em claves de Mi e Sol. Sol que esfria ao vê-la em agonia de não temer o que deve... Escultura viva em meio ao desatino que é sempre ver o que não se quer, o que não se quis, o que não se acreditou ser capaz de existir... e ela existe. E dentro de você ela roda, que nem pião em mão de menino abençoado. Ela deita com você e acorda seus sonhos de mulher pacata, trazendo suores e prazeres, dando-lhe a mão que simboliza o tudo. E tudo é ela. Ela que se invade de luzes, calores e dores. Ela que quer sair do seu sonho, para viver em você no dia que amanhece através da cortina puída do que você quis ser um dia. Ela é você ontem, quando a dureza da vida engatava rés e primeiras avançando sinais e conceitos. Ela existe e mora ao lado da sua alma envelhecida pelos nãos que a vida lhe deu. Ela é o fim e começo de tudo. Dê-lhe a sua mão e todo sim será seu. E ele não terá mais vez neste sofrer em vão.

albanegromonte

Sacríficio


pra te fazer feliz...
eu me viro pelo avesso e me transformo na tua atriz preferida.
dou cambalhotas, faço estrelas
transformo em golfinhos os flocos de nuvem do céu da tua janela
mudo o cenário do filme, da novela, do desenho animado.
convido teus poetas pra conversar conosco no cair de uma tarde
que tinja
de
azul
o amarelo do sol da minha cidade
que não viste por fechar os olhos a meu querer.
aprendo a tocar piano, bailar, voar trapézios e domar leões.
por ti, corto os cabelos pinto as unhas de negro e visto jeans rasgados nos joelhos.
por teu amor, eu faço a transamazônica a pé e sem cantil,
largo os empregos, viro sem-teto, sem-terra... só não fico sem teu amor.
por teu querido sorriso a soar nos meus tímpanos,
eu deixo de ouvir música alto, de tomar banho quente no verão,
engraxo os sapatos de todos os italianos do Braz.
por ti, eu deixo de fumar, tomar vinho nas madrugadas, comer chocolates
e ver filme de terror na TV.
por teu amor eu fico careca, ando pelada de bicicleta pela Atlântica,
subo em postes, arranco erva daninha dos jardins de alá.
por um olhar teu mais demorado eu me finjo de morta,
faço comercial de banco, me visto de marrom,
assisto a show de marionetes, vestida de branca-de-neve
viro bola de lã na boca do teu gato,
chiclete na tua língua
que tanto quero morder um dia

albanegromonte

dezembro 14, 2006

Canção



O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão, sob o fardo
da insatisfação
o peso o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos nos toca
o corpo, em pensamentos
constrói um milagre,
na imaginação aflige-se
até tornar-se humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados e assim temos que descansar nos braços do amor
finalmente temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor, nenhum sono
sem sonhos de amor -
quer esteja eu louco ou frio, obcecado por anjos
ou por máquinas, o último desejo
é o amor - não pode ser amargo
não pode ser negado não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se sem nada de volta
assim como o pensamento é dado
na solidão em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos na escuridão,
a mão se move para o centro
da carne, a pele treme
na felicidade e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que eu queria,
eu sempre quis, eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci.

Allen Ginsberg

Recanto Da Memória

a você que me trouxe de volta um sorriso perdido no tempo.


de ti me lembro ontem
olhos de menino ainda
(e éramos nós)

do teu sorriso sereno
da tua mão terna
minha mão medrosa

em ti vejo hoje
olhos de homem-menino
(ainda)
sorriso manso
arrancado de dores que ainda não sei
mas que chega suave em mim, pelas atrozes modernidades
que nos afastam&aproximam
(telas planas, mega-pixels, downloads, soft&hard, abismos de conexões baratas, fones de ouvido, imagens congeladas na camera abstrata)

em ti, pressinto o abraço
o aconchego
o perfume
o sentir tranquilo com o tal sabor de fruta mordida
(dizia o poeta)

de ti, hoje sei a cor preferida, o movimento, o fio de prata que encanta

em nós vejo uma promessa quase ameaça
em palavras não mais
e sim
no gesto que se faz
do sertão ao mar
como num dia tão longe
guardado na memória dos nossos corações

albanegromonte

Passagem


saberia te dizer hoje, não ontem quando nem éramos um par, das coisas todas com que se faz um bem-querer.
mas agora que, toda minha e tua sanidades evoluem-se em colibris desesperados que cobrem distâncias imaginárias entre nossas ilhas de mar&sertão... agora que&que agora nem mais sei quem sou, ainda mais se sou, ou és. és tu?
neste agora eu não mais sei. e calo. mas tu me.
me dizes assim: se formos nós o que pensamos...
eu sei e tu sabes, meu dengo, meu norte minha rosa-dos-ventos.
a ampulheta corre para trás e nossa história se confunde no soneto que sonhaste e no alexandrino que eu nunca esqueci. mas...
o Tempo, esta fera insone acorda as horas todas em que estamos sós e nos diz:
pressa, muita pressa que já parti há trezentas luas e mais não posso parar sem que.
filosofia na alcova de um medieval menestrel... lenço embebido em vinho tinto suave ou seco. tanto faz,
sobram garrafas, cigarros e comprimidos que retardam a tristeza que nossos passados nos trazem.
mas.
apagar eu vou com as chamas do vulcão que invocaste em mim, quando me acordaste no meio do azul virtual em que estava. eu estava. tu chegavas. e depressa vou invadir teu país, tua sala, tua alma...
e pousada estarei no teu coração quando menos esperares.
a campainha vai tocar. o sinal vai abrir. comportas se fecharão hermeticamente e enclausurarão nossos medos para sempre.
e sempre eu e sempre tu.
em cidade qualquer na beira do mar, ou no último desenho do mapa.
sempre nós como nunca antes.
meu norte.
eu teu centro, te busco.
virás?

albanegromonte

dezembro 04, 2006

Da Gaveta

chuva que cai na tua janela escancarada&longe, molha meus lençóis e meus olhos tontos de te olhar através de outros que nem sabia. vento que oscila entre as nuvens esparsas no céu da minha cidade cuida de apagar a chama da vela amarela pousada no teu sorriso que senti hoje, um tanto mais triste do que eu gostaria. e um medo de tudo me tomou de súbito, trazendo à tona antigos fantasmas que arrastavam correntes bem longe daqui. e meu coração bolha de sabão, beijos formatados&escancarados em arte que nem é minha e que talvez por isso, passaram adiante da tua atenção, bilhete no travesseiro que nem leste, tamanha a pressa de acordar&viver, tomaram de assalto minha certeza indevida. será que é mesmo isso que penso que tuas palavras dizem quando atravessam as milhas que separam nossas ilhas? e no tapete da sala, derramo uma tola&clara lágrima de saudade do tempo em que teus olhos cor de tudo me viam em sonho&imaginar de curiosidade. e a pequena lágrima, solta no ar, hesita entre colar-se a esta lembrança torturante do teu beijo na minha boca ou largar-se inteira pelas paredes da minha casa. e desejei que hoje fosse ontem, que sinos&tambores não mais tocassem tão forte em mim, quando é de tua voz que lembro ao acordar e ao dormir. e quis tanto, que um arco&flecha disparasse em meu coração bilhete de suicida e em chamas fizesse de novo o escuro profundo, tranquilo, desesperador, mas conhecido inferno se refizesse em mim, e que eu esquecesse enfim, que um dia minhas mãos encontraram as tuas por baixo de uma mesa de bar, e que meus olhos se perderam tão desavisadamente no brilho dos teus, que sem promessa ou pedido se deixaram ficar por não saber nem ter pra onde ir, perdidos, coitados em tamanha intensidade. e orei ao Deus que não conheces, que me livrasse de um novo engano, pois este tolo e tonto coração não tem mais jeito de se refazer por tantos pedaços que se fez, ao se arrebentar em tuas escarpas inatingíveis, como se fosse sua última chance de ser diferente do que sempre se soube: um coração que não bate. só apanha. e como se fossem tentáculos de um pré-histórico animal que nunca vi, minhas lágrimas se multiplicaram em mil, se fixando em minhas retinas que andavam felizes com os beijos todos vistos em duas cores e em tamanhos diferentes. barquinho de papel se fez no meio da enxurrada, e navegou sem destino ou bússola pelo meu sentir dolorido e se foi no rastro de uma estrela cadente, direto pro Atlântico Sul que se mostrou através da minha janela escancarada que não esperava a chuva, mas teu afagofimdenoite e um dizer qualquer que nem te contei, chegasse. um sax se fez ouvir na madrugada inerte, e me vi contando tantas estrelas quantos dedos tive nas mãos e quase sorri de lembrar que tu só tens uma estrela neste céu todo aí em frente dos teus olhos. mas eu, ainda que triste, tenho a Lua que um dia me mandaste. e todas essas estrelas. espelho do meu quarto refletiu imagem última de ti, e senti falta de ter uma foto tua em papel, pra olhar agora. mas minha memória cuidou de trazer quadro a quadro, o teu sorriso enviesado, teu olhar& voz decantados em prosa&verso que nunca importaram. e abriu-se em minha alma cansada uma fresta qualquer de luz, então desdizendo tudo que leste antes, querendo apenas que amanheça logo e eu possa de novo dizer que te quero muito, ainda que doa, que eu tenha medos e não saiba mais em que cidade devo morar.

albanegromonte

Em 2005. Seria Hoje?


sinceramente, se você não mente, abre o jogo, homem, e diz que eu sou a mulher da tua vida. deixa que teus olhos percam o medo de olhar nos meus e vem comigo neste caminho que se interroga pra nós dois, assim como era desde o príncipio quando Adão&Eva não sabiam o que iria acontecer depois de mordida a maçã. pois então acontece comigo&comvocê, aqui neste mundo tão pequeno agora que existem as linhas aéreas. e pode até faltar a grana pra ir pichar o muro branco que tem em frente a tua casa, mas saiba meu bem, não falta tesão. e é este tesão, este desejo visceral que por hora se encontra adormecido que nem dragão a espera de São Jorge, que me impulsiona a escrever estes versos assimétricos e meio que malditos na sua concretude e falta de rimas que é como se deve fazer um legítimo poemadeamor. mas... o que seria do mundo sem as galáxias do Haroldo, sem o non-sense do Arnaldo Antunes que diz letra&música pra minha vozveludo cantar bem no meio do labirinto anatômico que sei pelas aulas de anatomia que existe dentro seu ouvido esquerdo, pois do direito cuida a minha língua absolutamente molhada pela chuva que cai sobre a minha cidade que quase não sai do sol. e então meu bem? arrisca ou não este querer bendito que poderá nos salvar da inanição de amor que cerca todo intelecto, toda falta de orgasmo e toda solidão que acompanha os poetas deste tempo de agora? quer me acompanhar? então comece a reconhecer o absoluto poder do meu olhar impreciso sobre o teu olhar escondido por trás do filtro noir que cerca tua visão real. então vem, pega um avião, que vou te esperar no terminal de uma companhia qualquer, vestida de branco, com uma inverossímel taça de vinho tinto numa das mãos e todo o amor deste mundo na outra, só pra te carinhar e te fazer feliz de uma vez por todas, que o tempo, meu caro, é mesmo imprevisível e pode nos cobrar a conta dos cigarros&cachaças&noitesinsones antes que a gente se dê conta e perceba que o fim já chegou. e before que isso aconteça, eu quero beijar a tua boca e saber o sabor do teu abraço contra o meu corpo pequeno e doce diante desta grandeza que é teu existir.

albanegromonte

Carícia

ph Eduardo Barrox
... não queira ser meu amor.
eu não quero ser o seu amor.
pretendo, em meu sonho turvo, ser teu leste, oeste qualquer direção
... não pense em me socorrer, quando dos atropelos da vida.
quero você, assim, longe do que é escuro, do que é dor.
chegue pra mim
sem hora certa sem promessa vã,
sem espada gloriosa que me salvará do terrível dragão.
seja o que sempre desejei.
meu sul, meu oeste
meu porto peito seguro onde ancorar minha cabeça de menina que sou bem no fundo
seja meu ouvir. meu falar
e me ouça cantar
que o tempo seja bom pra nós dois e nos torne juntos
antes que o pó se junte na cortina
e
que sempre eu seja o seu quase querer pra sempre
e
que você seja sempre, meu maior bem-querer vivido
e que quando este mesmo deus da hora de agora
nos abandonar,
seja dia claro de sol suave
e que possamos dizer que sim,
foi muito bom nos encontrarmos neste instante de hoje,
ou amanhã, quem saberá?
Mas que será!

albanegromonte

dezembro 03, 2006

De Um Dia...


que podia ser hoje...

Lembrei agora, enquanto a nuvem invisível do meu novo perfume envolvia meu corpo metido num doll de seda amarela, do nosso primeiro olhar... meus cabelos ao vento de uma cidade qualquer dos Estados Unidos e o teu, como sempre tão feroz, por trás das lentes abusivas de um retratista atormentado pelo fantasma de Besson. Click! As palavras foram pra lá e pra cá nas nossas bocas, feito chocolate em boca de criança. E eu quase te amei naquele instante. Mas estava apressada, aprendia os detalhes tortuosos de escrever sem caneta, sem papel. E quis te escrever um poema que falasse do quanto queria te ter ao meu alcance. E o fiz. Não sei se ainda o tens, pois não disse que te pertenciam aquelas palavras todas tão caóticas. Mas continuei a escrever tudo para teu olhar, e um dia, reconheci meu pulso, num dos teus insanos textos. Chorei. Foi mais fácil então, dizer de um daqueles meus escritos... foi pra ti. Pontapé de campeão. Meu gol, foi te ver sem jeito, feito menino que és. E aí, todos os fios de seda dos teus cabelos, se desvencilharam da maravilha que é o duvidar e reconheceram meu sentimento. Sei que te quero agora, não sei se amanhã permanecerei nesta espera de te tocar com as mãos que por hora te imaginam nas noites solitárias que antecedem os dias tenebrosos. O que sei, é que estarei sempre a te buscar nestes espaços de qualquer link, pra te dizer assim meio sem jeito, que preciso do teu sorriso aqui no meu rosto e do teu beijo bem na minha boca que sorri de quase tudo que dizes... Preciso te dizer que pichei teu muro com minha letra que nunca viste e assinei com meu codinome. Beija-flor. Tenho que dizer, que era eu, a mulher nua que tocava tua campainha enquanto dormias profundamente em outros braços... Então, o que esperas para tomar o primeiro trem que vem pra minha cidade? Vou te aguardar, com minha bicicleta carregada de margaridas e te levar sem mala, pro meu abrigo secreto, onde nada, nem ninguém nos encontre, até que se sacie esta incrível vontade de te ter.

albanegromonte

Um Dizer


apenas uma palavra para definir este bem-querer tão louco.
eu preciso dessa palavra, para definir o pulo que dá meu coração dentro da camiseta, quando te ouve ou lê, tanto faz, já que pra te ver vai levar um tempo.
só sei que é verdade que eu estava nua quando teu toque de telefone bateu na minha pele ainda molhada, e mais ainda ficou quando meus ouvidos captaram esta mansidão da tua voz.
ai, que desaguou um mar em mim, e minha alma cantarolou um tango, que é a dança mais parecida com fazer amor que conheço.
então derretida por este sentimento que nem ouso dar nome, fechei os olhos e vesti a velha camiseta da Minnie, enquanto te ouvia falar dos bichos&coisas da tua vida.
como quis te abraçar, beija-flor.
deitei na cama e nem te contei do calor que me subia pelas pernas e seguia corpo a fora contigo por dentro.
aí, me imaginei bem do teu lado, segurando tua mão, te olhando bem nos olhos e te dizendo um a um os poemas&prosas que fiz pensando em ti.
desejei ser teu último beijo.
teu bicho querido.
eu quis, hoje, sorrir sempre contigo e ser teu amor.
...
mas não tive coragem de dizer.

Place


de ti eu sei quando sonho
olhos abertos pro céu
enquanto, cílios fechados, busco a mesma Lua que te ilumina o quintal
onde gnomos brincam com os gatos
e girafas correm com pinguins

de ti eu sou quando amanhece
e em minha cama solta nas nuvens
observo o mesmo Sol que te acompanha no dia iluminado
enquanto conto as horas
e tu me falas de quando

em ti não sei o que se vai
quero apenas que venhas
dia ou noite
- não sei, mas se
hoje for dezenove
nossos signos se alinharão
e festa haverá na solitude da via-láctea
e o carteiro de Pasárgada
repousará feliz por saber
que sua encomenda chegou ao centro do mundo
onde começa tudo
onde findamos nós.

albanegromonte